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O professor como intelectual - por Jean Menezes



Jean Menezes

A palavra intelectual passou a ser empregada a partir de 1898 em Paris para se referir a Emille Zola e seus correligionários que buscavam inferirem através da crítica no espaço público da política francesa. De início a palavra intelectual foi carregada de uma depreciação, pois os intelectuais de Zola eram entendidos pelo governo como alguma espécie de bisbilhoteiros da política do tempo presente. Assim mesmo, o termo intelectual pegou e passou a ser um designativo nada pejorativo, uma vez que o intelectual buscava a preservação dos valores universais como liberdade, justiça etc.


Certamente, dos tempos de Zola até nossos dias, diversos tipos de intelectuais existiram e entre eles, talvez o mais antigo de todos: o professor.

Partimos do pressuposto empírico que o professor é um intelectual quando comunga da defesa dos valores universais e da emancipação do sujeito histórico. Ele é um profissional engajado politicamente, pois infere no espaço que deveria ser público na sociedade do consumo. E este perfil de professor anda escasso. Mas nos vem o questionamento: que tipo de engajamento tem uma parcela expressiva dos professores como intelectual na atual sociedade brasileira? Certamente são vários, mas certo tipo de engajamento intelectual nos chama atenção. É o engajamento estranhado. 


O que é isso? É o intelectual (parte dos professores) que atua sem saber muito bem que está atuando e em nome de quem, ou em qual projeto está engajado. Para exemplificarmos esta abstração, podemos notar parte dos professores que se preocupam, que se detém e que são motivados a pesquisa ou as aulas, apenas para a obtenção do salário que a rede pública ou privada os pagam mensalmente. É estranhado porque este intelectual (não são todos! Como dissemos: uma parcela expressiva!) se ocupa em ensinar não de modo muito diferente dos sofistas da antiguidade (vendendo aulas). Apreende-se ao pagamento que por sua vez deve ser utilizado para a realização de outros pagamentos de dívidas contraídas, pouco ou nada se importando com o espaço que ocupa na organização da sociedade. 



De acordo com Pedro Demo (Unb), menos de 9% dos professores participam de associações e sindicados que buscam a representação da categoria. Menos de 5% se declaram interessados em participar da política do bairro, cidade e esferas maiores das decisões públicas do país que moram, muitas vezes partilhando o senso comum que estufa o tórax para afirmar que política é coisa de malandro. 

O caro leitor deve estar se perguntando, por que são considerados intelectuais esta parcela de professores? São intelectuais porque estão engajados, de forma estranhada, ou não, na manutenção de muitos problemas sérios da sociedade de classes. Não participam criticamente da organização dos espaços que deveriam ser públicos e, portanto, contribuem com aqueles que desejam o público/democrático exista apenas no papel para a classe que está longe do poder político/econômico. Ajudam a manter o quadro drástico da educação e formação da crítica política, onde o sujeito histórico, como defendia o senhor Taylor para o trabalhador, apenas deve aprender o necessário para operar as máquinas, numa palavra, gorilas amestrados que aprendam apenas a votar, a voltarem o troco certo e a pronunciarem um conjunto de verbos, predicados, sujeitos, etc. compondo frases e orações que atendam aos interresses de classe – e classe aqui, é no sentido marxiano.

Esse nosso intelectual critica o baixo salário – e concordamos com ele -; que o sistema é o culpado –; também concordamos -; que as políticas públicas não são suficientes. Todas essas queixas são válidas, mas se a preocupação do intelectual redundar no particularismo, apenas no individualismo, o significado do Ser intelectual estará limitado ao o que Antonio Gramsci entendeu como o intelectual tradicional (uma categoria complexa do pensamento gramisciano que não posso me deter neste pequeno texto). E se assim for, o professor que se ocupa em apenas preencher um cargo público na obtenção de seu salário para lambuzar-se no espetáculo do consumismo, não estará distante dos interesses dos intelectuais tradicionais que desejam preservar a situação de classes como está: os que mandam e governam e os que obedecem e são governados - assim como os cordeiros e ovelhas dóceis e obedientes. 


Mas tudo isso com uma grande diferença deste tipo de intelectual que apresenta Gramsci, pois o nobre professor quando não pertence à classe social do intelectual tradicional, ele opera como um intelectual Ad Doc da classe que o dirige, mesmo sem saber o que se passa diante de seus olhos presos as vitrines do consumo e as algemas dos ganhos particulares que sustentarão, em partes, os seus fetiches. Transforma-se e um intelectual por tabela a serviço dos próprios que ele mesmo identifica como o Sistema falido, seja o político, o econômico e o educacional para o qual vende a única coisa que em tese tem: sua força de trabalho. Desta forma, este tipo de professor intelectual acaba por contribuir, engajadamente, para a cristalização do sistema que tanto o remunera mal e indecentemente na sociedade de classes do tempo presente.


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Jean Menezes (fafica_95@yahoo.com.br) é Professor de História e Filosofia. Mestre em História pela UFGD, Doutor em Ciências Sociais pela Unesp de Marília e membro do Núcleo de Estudos Políticos de S. J. do Rio Preto.

* Originalmente postado em 3 de agosto de 2008.

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10 Comentários

  1. hello everybody

    I just wanted to introduce myself to everyone!

    Can't wait to get to know you all better!

    -Marshall

    Thanks again!

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  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  3. Parabéns, excelente texto trazendo a reflexão que nos tira da alienação.
    Abraço
    Angélica

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  4. Olá Angélica,

    Jean Menezes é um velho amigo e camarada do blog... esse texto dele é realmente uma ótima contribuição para reflexão.

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  5. Tem um espaço a direita no blog para seguidores Breno. Abraço!

    ResponderExcluir
  6. Digamos que tenho um certo tempo de trabalho como professor. Você está certo em seu artigo. Vou publicá-lo, com a sua permissão, em blog GRIOT BALALAIKA http://bsnbrazil.wordpress.com/
    que se dedica a questões como as que são citadas em seu artigo. Eu, inclusive, já publiquei bastante a esse respeito. Há uma dissimetria entre o que os professores pensam a respeito do próprio ato de ensinar. Por favor, visite meu blog e me autorize, se assim entender, a publicar o texto acima, claro que respeitadas as fontes. Aguardo, ansioso. Hilton Besnos.

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    Respostas
    1. Olá Hilton, caso queira, me mande o texto por e-mail e dai eu vejo pra publicarmos aqui no blog também. O que acha?

      Sobre este texto, ele pertence ao prof. Jean. Teria que falar com ele e te dar uma resposta.

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