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Chimarrão - Glaucus Saraiva


Amargo doce que eu sorvo


Num beijo em lábios de prata.
Tens o perfume da mata
Molhada pelo sereno.
E a cuia, seio moreno,
Que passa de mão em mão
Traduz, no meu chimarrão,
Em sua simplicidade,
A velha hospitalidade
Da gente do meu rincão.


Trazes à minha lembrança,
Neste teu sabor selvagem,
A mística beberagem,
Do feiticeiro charrua,
E o perfil da lança nua,
Encravada na coxilha,
Apontando firme a trilha,
Por onde rolou a história,
Empoeirada de glórias,
De tradição farroupilha.

Em teus últimos arrancos,
Ao ronco do teu findar,
Ouço um potro a corcovear,
Na imensidão deste pampa,
E em minha mente se estampa,
Reboando nos confins ,
A voz febril dos clarins,
Repinicando: "Avançar"!
E então eu fico a pensar,
Apertando o lábio, assim,
Que o amargo está no fim,
E a seiva forte que eu sinto,
É o sangue de trinta e cinco,
Que volta verde pra mim.



Glaucus Saraiva



Veja o autor declamando este poema







Fonte: Livro "Poesias", autoria de Apparicio Silva Rillo. Editora AGE. 1992.


Publicado por Roberto Cohen em 29/05/2001, gentileza de Fabiano Seyboth Mallmann e José Octavio de Azevedo Aragon.


Editado por Roberto Cohen em 06/01/2004.


Glaucus Saraiva
Capa do livro

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