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"Utopia" de Thomas More | José A. Fernandes [resenha]



Imagine um mundo onde as pessoas vivam em harmonia, em paz, sem amar o dinheiro ou os títulos de nobreza. Imagine esse mundo, onde não se faz distinção entre ricos e pobres, nobres ou servos, príncipes ou súditos. Se você imaginou esse lugar, não foi o primeiro a fazê-lo. 

Esse mundo certa vez foi imaginado por um cara chamado Thomas More (ou Morus, como do latim) e se chamava Utopia

Numa espécie de relato de diálogo com um indivíduo por nome Rafael Hitlodeu, More descreve o que aprendeu, tentando dizer a "verdade", sem ocultar detalhes dessa ilha que é descrita como se realmente existisse.

O cenário de Utopia é pintado como o mais belo e as pessoas como as mais felizes da terra. Ali não haveria exploração de uns pelos outros, pois o dinheiro e mesmo o ouro não têm importância. Ali o ouro serve quase que apenas como material para grilhões e diademas de escravos. Ah! Em Utopia haviam escravos. Mas, segundo o relato, os mesmo não eram mal tratados e nem serviam como mercadoria. Escravos eram antes prisioneiros de guerra e criminosos, que em alguns casos poderia conseguir a liberdade - especialmente no caso de comprovado bom comportamento. 

Com exceção de alguns poucos que dedicavam a vida toda às coisas da ciência, em Utopia quase todos trabalhavam no campo e o que produziam era repartido de forma rigorosamente igual. Se a umas cidades faltasse algo, as outras as supririam sem lhes cobrar por isso, afinal não fazia comércio entre eles. Comércio eles só fazem com os reinos vizinhos, ainda assim apenas com o fim de conseguirem recursos para se defenderem em tempos de guerra. Guerras que, aliás, são algo  indesejável, segundo Hitlodeu, sendo antes preferível a resolução pacífica. De qualquer forma, se percebe como não fugiam muito à essa parte, aparentemente, inevitável da humanidade que é guerrear. 

Se procurarmos entender a Utopia, veremos nela muitos dos anseios de muitos de nós, sendo boa parte deles inalcançados (não necessariamente inalcançáveis) ao longo da vida. Em algum momento de nossas vidas nos pegamos imaginando um mundo justo, onde todas as pessoas são felizes. Com algumas coisas que tenho visto nos últimos dias, me lembro da música Índios, da banda Legião Urbana, que em uma de suas estrofes diz "quem dera ao menos uma vez, com a mais bela tribo, dos mais belos índios, não ser atacado por ser inocente". 

Como diz, por fim, Thomas More, os utopianos não atacam para ter riquezas, antes eles as juntam para se defender em tempos de ameaça. Mas e os que não tem riquezas e nem poder para se defender, o que lhes resta? Que alguém lhes leve embora até o que não têm?

Mas, essa não é a única questão inserida no livro. Thomas More escreve para contrabalançar a realidade e as transformações as quais a Inglaterra estava passando naquele momento. Realidade que tinha a ver com a expulsão dos camponeses dos campos, onde passavam-se cada vez mais a serem criados campos de pastagens, sobretudo de ovelhas, com o objetivo de se produzir lã para as crescentes manufaturas. O cenário pintado por ele é o mais realista que lhe parecia possível com o conhecimento da época e o ponto do qual partia (a religião cristã católica): 

Os inumeráveis rebanhos de carneiros que cobrem hoje a Inglaterra. Esses animais, tão dóceis e tão sóbrios em qualquer outra parte, são entre vós de tal sorte vorazes que devoram mesmo os homens e despovoam os campos, as casas, as aldeias.

Pessoas que, uma vez expulsas dos campos, eram jogadas aos montes nas cidades. Ali, acabavam se sujeitando aos trabalhos mais degradantes ou mesmo caminhando, não poucas vezes, para a delinquência. Esse último caminho, levava muitos a sofrerem os efeitos de leis que ao invés de serem criadas para resolver seus problemas, apenas os punia, com a desculpa de manter a ordem, com frequência os jogando nas prisões ou levando-os à pena morte por não ter emprego, dinheiro e pão.

É contra esse mundo injusto que More pensou a Utopia, num mundo em que dividir não era um castigo, mas uma virtude. Num mundo onde o coletivo era a ordem da vez e não o individualismo que ganharia cada vez mais força e que acabaria por se concretizar nas leis do liberalismo econômico, imperante, sobretudo a partir da Revolução Industrial de fins do século XVIII. 

Thomas More, por sua vez, por suas crenças que iam além do livro, seria condenado a morte em 6 de julho de 1534. Mas isso deixamos para contar outro momento.


Ilustração mostrando a ilha imaginária de Utopia

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* Imagem do topo: Thomas More
** publicado originalmente em 24 de out de 2012.

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2 Comentários

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