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Imigrantes e migrantes na história do Brasil


fatima do sul ms

Uma reflexão sobre o ato de migrar ou imigrar, usando como exemplo o Brasil. Mas uma dúvida: migrar e imigrar não seriam a mesma coisa? Qual a diferença? 

Antes de mais nada precisamos entender o que significam as palavras imigrante e migrante. O dicionário nos dá as definições desses verbetes: imigrar, temos que se trata de um movimento de "entrar (num país estranho) para nele viver"; já migrar teria a definição "mudar de país ou de região"[1]. 

Acontece que nos ensinam nas escolas a distinguir essas duas palavras e às vezes isso nos confunde mais do que ensina. Quase sempre nós definimos didaticamente migrar como sendo um movimento dentro do próprio país e imigrar um processo ocorrido entre países diferentes. O mais importante é saber que ambas servem indiferentemente e são usadas por muitos estudiosos para definir o deslocamento de pessoas seja ele interna ou externamente em um país. 

O mais importante também é saber que as pessoas mudam, ou seja, elas migram ou, o que tanto faz, imigram.

Quando se fala de imigrantes, no caso do Brasil, logo nos vem a cabeça as imigrações italiana, alemã, japonesa, europeia e asiática de maneira geral (muitas dessas tem seus dias comemorativos especiais). Estes tiveram sim um papel importante no desenvolvimento econômico e mesmo político, inclusive, no caso europeu, trazendo muitas dos ideais de esquerda que efervesciam no fim do século XIX e início do XX. 

Claro que, no fim do século XIX, em épocas de emancipação negra em nosso país, isso também representou uma espécie de isolamento dos antigos escravos ou em outros casos o uso dessa mão de obra em trabalhos menos "atraente" para os imigrantes europeus e mesmo para os asiáticos.


Vale lembrar também que nem só de gringos brancos constituiu-se a história das migrações no Brasil. Internamente, sempre, ou quase isso, aconteceram processos migratórios, muitos de cunho milenarista e/ou messiânico. Exemplo disso é que, a partir da década de 1930, o país conheceu um grande fluxo expansionista e pioneiro, de ocupação de territórios que se pretendiam "vazios" demograficamente[2].


Era a Marcha para Oeste de Getúlio Vargas e companhia, que criou uma espécie de "cruzada" para a conquista do sertão brasileiro. Esse movimento pretendia uma ligação ideológica com os bandeirantes do período colonial. É nesse sentido que a historiadora Isabel Guillen vai dizer que essa questão é mais nitidamente posta durante o Estado Novo e o governo de Getúlio Vargas, ficando claro que se pretendia evocar o bandeirante como um mito de progresso e expansão do território; uma entidade “do bem”, que deve ser seguida[3].


Nesse movimento da Marcha para Oeste, houve uma grande entrada contingencial em direção ao interior do Brasil. Isso se juntava também aos movimentos de penetração da Amazônia, com seus seringais, garimpos e madeireiras. Tomando o caso do antigo sul Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul), tivemos uma leva de colonos que migraram em direção à Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), que era entre as Colônias Federais (haviam outras) a "menina dos olhos" de Vargas. Esse movimento de pessoas foi intenso, originário sobretudo do Nordeste, mas também havendo migrantes de outros estados, seja mineiros ou paulistas, e mesmo outros países, como o caso mais importante dos japoneses, que fizeram com que se elevasse, em duas décadas, a população da região de Dourados de 13.164 habitantes para 68.487, desde a criação da CAND em 1943.


Por fim, ainda sobre o povoamento da CAND, caso mais familiar para mim, este teve como consequência também o surgimento de diversos municípios, como Fátima do Sul, Glória de Dourados, Jateí, Deodápolis, Douradina, Vicentina, e distritos, como Nova Esperança, e vilas como São Pedro e Vargas, pertencentes ao atual município de Dourados.


Construção da Praça Getúlio Vargas, Fátima do Sul, MS, 1971 

Dica de Livro:

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Fabiana Shizue
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[1] Mini Aurélio digital. v. 5.12, 2004.
[2] Só lembrar que em muitos desses espaços já habitavam a séculos os indígenas.
[3] GUILLEN, Isabel C. M. O imaginário do sertão: lutas e resistências ao domínio da Companhia Mate Laranjeira (Mato Grosso, 1890-1945). 1991. Dissertação (Mestrado em História) – Unicamp, Campinas.

* Foto do topo: Família de japoneses no rio Dourados, década de 1960.

** Originalmente postado em 1/dez/2012.

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