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Os migrantes no sul de Mato Grosso antes da década de 1930



A região onde hoje é Mato Grosso do Sul, desde o fim do século XIX, viu um aumento importante do número de migrantes, sobretudo gaúchos. Um desses gaúchos será Thomaz Laranjeira, o fundador da empresa que ficaria conhecida como Mate Laranjeira. Além dele, tantos outros disputariam espaço, inclusive na produção de erva-mate. Sobre ele falamos nessa postagem que faz parte da Série "O sul de Mato Grosso no século XX".

A região sul do antigo Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul) desde o fim do século XIX viu um aumento importante no fluxo de migrantes, sobretudo gaúchos. Claro que esta migração está abaixo da que ocorreria durante o governo de Getúlio Vargas e posteriores, mas já começava a mudar o cenário regional. 

Um desses gaúchos Thomaz Laranjeira, vindo com a como provedor de suprimentos para a Comissão Mista de Limites Brasil-Paraguai, do pós-Guerra do Paraguai, obteve, em fins de 1882, uma concessão de exploração, no sistema de arrendamento, de uma extensa área de terras devolutas situadas na faixa de fronteira com a República do Paraguai, isto é, a região onde mais tarde surgiria a povoação de Ponta Porã, onde extrairia erva-mate [1].

Diversos dos demais migrantes desse período ocuparam áreas de produção de erva-mate, sendo que alguns deles disputariam território com a Companhia Mate Laranjeira (sucessora da empresa individual de Thomaz Laranjeira), empresa que teve o virtual monopólio da produção ervateira no estado nas primeiras décadas do século XX. É nesse sentido que o historiador Paulo Queiroz nos diz que foi significativo o fluxo migratório para o sul do estado logo após a Guerra do Paraguai [2],

vindos das províncias vizinhas (Minas Gerais, São Paulo, Paraná) e também do Rio Grande do Sul (sendo que essa migração de gaúchos, como se sabe, teria um notável incremento na década de 1890, em decorrência da Revolução Federalista). Tais migrantes dedicavam-se, como seus antecessores, à agricultura de subsistência e à pecuária bovina, sendo que, na região ervateira, não se furtavam também à elaboração de erva-mate, tanto para consumo próprio como para comércio [3].

Para além da disputa de espaço e controle da produção ervateira, a história de alguns desses migrantes acabou mesmo se mesclando com a da Companhia Mate Laranjeira. É o que conta, por exemplo, o senhor Ricardo Dauzacker a respeito de um dos tios de sua avó, Modesto Dauzacker, que foi administrador da Fazenda Campanário, sede da empresa a partir da década de 1930, e um dos primeiros prefeitos de Ponta Porã [4]. 

Aliás, sendo o assunto migração para o sul de Mato Grosso e em alguns casos a produção de erva-mate, um exemplo importante é o da família Dauzacker (sobre eles falarei em outra postagem). O senhor Astúrio Dauzacker, primo de Ricardo, disse que em 1905 teria vindo do Rio Grande do Sul seu avô, Constâncio Luiz da Silva, ao Guaçu, no atual município de Dourados [5]. Além disso, o senhor Ricardo e seu irmão Clóvis, são filhos do senhor Ramão Marques Dauzacker, nascido em Dourados em 1914, um importante produtor (daqueles que chamo de “colonos ervateiros”) no período posterior da Colônia Agrícola Nacional de Dourados, que também era comprador e vendedor de erva-mate.

Além da erva-mate, uma parte importante dos numerosos migrantes que vieram para o sul de Mato Grosso até a década de 1930 se dedicou também à criação de gado e construíram um “universo paralelo” à Companhia Mate, muitos deles, assim como ela, vinculados ao mercado platino, igualmente usuários do rio Paraguai [6].

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* Foto do topo: Automóvel Ford carregado de sacas de erva-mate e alguns trabalhadores, em Campanário na década de 1920. Arquivo do APEMS/Campo Grande-MS.

** Originalmente postado em 27/jan/2013.


Referências:


[1] CORRÊA FILHO, Virgílio. À sombra dos hervaes mattogrossenses. São Paulo: Ed. S. Paulo, 1925, p. 14-16.
[2] QUEIROZ, Paulo R. Cimó. Articulações econômicas e vias de comunicação do antigo sul de Mato Grosso (séculos XIX e XX). In LAMOSO, Lisandra P. (org). Transportes e políticas públicas em Mato Grosso do Sul. Dourados/MS: Editora da UFGD, 2008, p. 44.
[3] Idem, p. 44.
[4] Entrevistado na Vila São Pedro, município de Dourados, em junho de 2008.
[5] Entrevistado em Dourados, MS, em junho de 2008.

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8 Comentários

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  2. Meu pai também se chama Ramão Marques Dauzacker. Só que ele nasceu em Ponta Porã,em 04 de fevereiro de 1918 e faleceu em 05 de fevereiro de 1998.

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    1. Mas há algum parentesco com o nosso personagem Marilene?

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  3. São primos. Um nascido em Dourados e o outro em Ponta Porã.

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  4. Meu avô José de Almeida também esteve nessa época aí na campanário Eu já procurei saber dele, alguém poderia me informar? sobre ele porque a maioria dessas pessoas citadas nessas história existe de verdade porque eu não encontro nada sobre meu avô e meu pai Cláudionor Antônio Silveira de Souza, eu nasci na rancho campanário e todas as famílias da minha mãe e não encontro nada sobre eles ou porque meu avô era um negro que não está na história ele me contava que era mineiro só que nunca perguntei pensei que ele nunca fosse morrer ele era um negro benzedor curou muitas pessoas aí eu era criança e me lembro muito bem.

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    1. Muito interessante. Qual seu nome? Eu sugiro que você procure o Centro de Documentação Regional da UFGD, em Dourados, ou o Arquivo Público Estadual, em Campo Grande. Lá tem muitos documentos da CAND e da Mate Laranjeira. É difícil saber de todos que trabalharam na Mate Laranjeira, mas pode ser que encontre informações nesses dois lugares.

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  5. Eu quero saber sobre José de Almeida que viveu a muito tempo no rancho campanário ele benzia as pessoas ai me parece que ele era carteiro era o negro que trazia e levava correspondência e pagamento para a companhia mate?

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