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Sobre as "as árvores" e sobre ser escravo no Brasil



Arte de Peter Holme III, via Pinterest

Terminando essa série de postagens sobre ser negro em um país escravocrata, gostaria de lembrar uma música: As árvores, de Arnaldo Antunes e Jorge Ben JorA princípio ela não teria nada a nos dizer sobre os africanos e sua cultura, mas talvez nos ajudem a lembrar um fato interessante sobre a sua forma de interpretar o mundo. 

Nas sociedades africanas, especialmente na tradição da savana, ainda mais especificamente nas tradições bambara e peul, o conjunto das manifestações da vida na terra se divide em três categoria, ou classes de seres: os mudos; os animados imóveis e; os animados móveis

Em resumo, são todos os três reinos que formam a vida que vivemos: mineral, vegetal e animal.


É no grupo dos animados imóveis que aparecem as nossas poéticas árvores de Arnaldo e Jorge Ben, afinal, assim como os músicos brasileiros, os africanos as colocam entre os seres vivos que não se deslocam, mas tem seu sentido num mudo de movimentos. Essa é a classe dos vegetais, que podem se estender ou se desdobrar no espaço, mas cujo pé não pode mover‑se, ou como dizem nossos poetas, na alameda/Crescem pra cima como as pessoas/Mas nunca se deitam/O céu aceitam/Crescem como as pessoas/ Mas não são soltas nos passos

Como completam os saarianos, dentre os animados imóveis, encontramos as plantas rasteiras, as trepadeiras e as verticais, estas últimas constituindo a classe superior, além de, como dizem nossos poetas, são maiores, mas/ocupam menos espaço.

Talvez você não tenha encontrado uma relação entre o pensamento cosmológico africano e o exemplar do cancioneiro brasileiro. No final, pode ser verdade que o que procuramos sempre é apenas um sentido para admirarmos as coisas bonitas, independentemente de qual lado do Atlântico elas estejam.

Talvez também alguns de vocês tenham gostados dos textos produzidos pelos alunos. Espero mesmo que os tenham. Se eles ajudaram a imaginar, então nossos alunos nos deram uma contribuição valorosa no entendimento das "árvores" que se movem nesse mundo desde muitos séculos até hoje.

Talvez, por fim, recebamos o que produzem nossos alunos como as árvores recebem as chuvas, de galhos abertos.



Veja o clipe da música**


Fontes:

* HAMPÂTÉ BÁ, Amadou. A tradição viva. In: KI-ZERBO, J. (coord.). História geral da África: I – metodologia e pré-história da África. Brasília: Unesco, 2010, p. 184.

** Música ilustrada com desenhos infantis. Resultado de um trabalho desenvolvido para a Expo-Vida na Escola Tereza Pinheiro de Almeida, em Angra dos Reis - RJ, pelo Prof. Rafel Kuwer, de Educação artística.

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