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O Haiti não é aqui, mas poderia ser



Sei que muitos de nós adoramos falar do imperialismo norte-americano, fazendo isso com um legítimo fervor humanista. Mas algo está mudando, como sempre acontece com a dinâmica História, e algumas coisas me preocupam. O mundo vem olhando para novos cenários que vêm sendo desenhados, novos personagens a ganhar destaque e situações "inéditas" em lugares antes pensados com outros termos. 

Os países pobres do mundo, que não são poucos, vira e mexe passam por conflitos, alguns deles deixados como herança da Segunda Guerra Mundial. Basta ver que nos últimos dois séculos ou menos, vem surgindo nações minúsculas, de poder econômico restrito e com intensa e duradoura guerra interna pelo controle do governo. Algumas delas, com instabilidades motivadas por conflitos étnicos e raciais.

Um desses casos é o do Haiti. Independente desde o século XIX, essa minúscula metade de ilha (a outra metade  "hospeda" a República Dominicana) se vê em constante conflito pelo poder e quem sofre é a população em geral, que tem que viver com muito pouco, quando consegue, e se debater com as marcas da pobreza extrema - o país é o mais pobre das Américas. Como se já não fosse ruim, foi devastado pelo terremoto de janeiro de 2010, que matou mais de 300 mil pessoas, que, por sua vez, também agravou a epidemia de cólera por lá.


Mapa extraído da internet.

"Numa população de quase dez milhões de habitantes, mais de oito milhões vivem sem energia elétrica e, na falta de uma política habitacional abrangente, meio milhão de haitianos ainda estão em abrigos ou acampamentos. O desemprego atingiu 60% da força de trabalho num país onde cinco milhões de pessoas são analfabetas e 80% da população vive abaixo da linha de pobreza" (O estrangeiro).

De lá para cá a vida ficou ainda mais difícil, fazendo com que o número pessoas que procuram abrigo nos países vizinhos aumente muito. Embora seja difícil medir com exatidão, estima-se que, desde 2010, cerca de 4 mil haitianos tenham cruzado a fronteira com o Brasil e alcançado municípios dos estados do Acre e do Amazonas.

O problema, em minha opinião, é que em relação a essa corrente migratória o governo brasileiro tem tomado algumas medidas para controlar a entrada de pessoas dos países vizinhos. Isso tem acontecido através de algumas exigências para concessão de visto e um controle sobre os considerados "ilegais" - neste último caso com deportações. Mas, apesar disso, essas pessoas continuam afluindo através das nossas fronteiras, como já acontece a bastante tempo com paraguaios e bolivianos no outro extremo do país. 

Não acho que a vinda dessas pessoas seja um problema em si, mas também não acho que a situação seja tão fácil de resolver, tanto para nós quanto para eles. O que é certo é que o abrigo para os "forasteiros", como os haitianos, mas não só eles, tem se mostrado como uma "ajuda humanitária". O que me preocupa, no entanto, é que venhamos a fazer como fizeram conosco no passado (e em certa medida ainda fazem), utilizando a mão de obra estrangeira em trabalho que os nossos compatriotas parecem não querer mais. Fico temeroso que entremos na fase em que exploramos os trabalhadores estrangeiros. Daí, teríamos a explicação, embora rasa, de que estaríamos passando de explorados para exploradores.

Mas, como disse e devo lembrar, não creio que a vinda deles seja um problema em si, assim como a sua recepção por empresas nacionais também não acho que o seja. As questões são outras. Afinal, se estamos em condições de abrir as portas para os que não tem atenção em seu país de origem, pois que assim seja. Vejo, por exemplo, que algumas iniciativas interessantes vem sendo tomadas, como qualificação profissional e adaptações desses indivíduos à realidade brasileira.

Mas, e aí vai mais um MAS, de qualquer forma fica o alerta. O que temos que fazer é respeitar a herança cultural dessas pessoas, vencendo preconceitos e procurando, em vez de criar mais um grupo de excluídos em nosso país, somá-los ao nosso rico cenário cultural e étnico, não tendo-os como inferiores, mas igualmente capazes de contribuir do seu jeito.


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Foto do topo de Marcio Silva/Acritica.

* Originalmente postado em 31/maio/2015.

Fontes de apoio:


http://www.brasilescola.com/geografia/o-terremoto-no-haiti.htm


http://oestrangeiro.org/2012/08/24/o-haiti-esta-aqui/


http://todososfogos.blogspot.com.br/2012/01/haiti-e-brasil-imigracao-e.html



http://acritica.uol.com.br/blogs/blog_do_lelio_lauria/imigrantes-haitianos_7_633606635.html

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