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Lobão e seu "manifesto do nada na terra do nunca"

Capa do novo livro de Lobão ladeado por sua pessoa. 
(Divulgação)


Como diria o técnico Tite, do Corinthians, o cantor Lobão "fala muito, fala muito!". Não quero marcar posição ou defender partidos aqui, também não quero "falar mal", mas acho interessante lançar uma discussão sobre o que declarou nosso ilustre artista que já viveu seus "50 anos a mil". Para isso usarei uma recente entrevista concedida à Shi Suzuki, do site G1, na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) 2013, Rio de Janeiro.

Lobão é um defensor declarado do livre mercado, da livre iniciativa, propriedade privada, diminuição do poder do estado, competição, mérito... enfim, do Liberalismo. Mas não se considera um cara de direita, apesar de se opor ao que ele chama de "esquerda caricata", representada em nosso país, ainda segundo ele, por um "Comunismo anacrônico". Ele não vota, se recusa, afinal os "partidos estão desmilinguidos em sua estrutura", mas, irônica ou descuidadamente, diz que temos que manter a elegância e "os trâmites democráticos não podem ser defenestrados" - aliás, esta palavra difícil até de pronunciar, para quem não sabe, quer dizer ao pé da letra "atirar pela janela".

Demonstra ele um medo em relação às manifestações recentes: o da "venezuelização" do Brasil, de virmos a nos transformar em uma dessas "republiquetas" "neo-ditatoriais" bolivarianas. Termos pejorativos sobram ao governo atual e ao partido que ele representa. Muito disso é justo, reconheço, mas não tudo. À parte a "ocorrência" de uma revolução nos moldes de nossos países vizinhos, especialmente a Venezuela, não sei em que mundo ele vive que não percebe melhorias. Já falei em outras postagens o que penso sobre isso: temos que valorizar o que de bom se fez nas últimas décadas no Brasil, sem deixar claro de criticar os defeitos, que não são poucos, concordo.

Talvez mais estranho será ouvi-lo dizer que não é favor de meia entrada em eventos, em geral. Segundo ele "tem que pagar inteira". Talvez, se me permitem, isso se deva ao fato de que por sua condição "favorecida" nunca ter ele precisado pagar meia, ou mesmo pagar. Ou seria o caso dele perder com as meias entradas em seus próprios shows?

Outro problema é que tais ações populares de protesto não têm foco, segundo Lobão, e sendo assim "não vai chegar a nada", afinal se deixam levar pelas "emulações anonymous" e se perdem. Ele fala das muitas pedidas do povo, que se multiplicaram a partir dos "20 centavos" e chegam aos buracos nas ruas, às reivindicações múltiplas das minorias, aos problemas particulares das cidades que "se levantam". 

O que vê nosso amigo é uma "extrema esquerda" agindo, um pessoal que marcha em um Brasil que não tem "uma qualidade de reivindicação". Pois, o que é pedir Passe Livre, se isso parte de ações socializante e bolivariana...?  Considera ele o quadro patético, por isso se diz cético em relação "a tudo isso".

Talvez eu esteja analisando de forma muito "presentista" sua entrevista, mas deixo ainda algumas perguntas para serem respondidas por quem lê este texto: será que ele enfrentou filas e apertamentos em coletivos algum dia na vida? Será que ele sabe o que é uma "manifestação popular" mesmo? Será que entende os conceitos de "exclusão social", "classe", "preconceito" e outros tantos que poderíamos enumerar aqui? Será que o acumulo de experiência nesses seus 50 anos não o levaram à alguma espécie cegueira? Ou a coisa seria de outra natureza e não faça ele mais que protestar "legitimamente", a sua maneira contra os protestos "ilegítimos" dos demais?

Ele marca assim sua posição, o que eu não pretendo fazer, como já disse. De qualquer forma, algumas coisas tenho que concordar com nosso artista, pois nosso país está sendo regidos por "cadáveres insepultos" "mamando nas tetas do poder" há décadas! Mas o problema é que logo vem ele e estraga o que disse, em meio a tantas declarações inconformadas, afirmando que "a patrulha tá mais ferrenha [no Brasil] que a dos anos 60", praticada em nossos tempos por "fascistóides"... Seria amnésia ou estaria carente de uma reflexão mais profunda através história?  História que aliás ele viveu, resta saber de que lado.

Não sei se me entenderão ao criticar algumas (talvez um pouco mais que isso) de suas posições, espero que sim. Acho que temos que criticar, mas temos que entender o que estamos criticando; também acho necessário um pouco de "caos" para encontrarmos o "rumo". Só que, às vezes, me parece que o que faz Lobão (aproveitando o título de seu livro recente) é um "manifesto do nada na terra do nunca".


Vídeo completo da entrevista: 
http://g1.globo.com/flip/2013/noticia/2013/07/lobao-diz-que-vai-fazer-opera-e-acha-perigoso-o-rumo-das-manifestacoes.html

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5 Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. José, o lobão conta como são as coisas na "terra do nunca" porque ele vive por lá. Nossos pseudo-artistas faziam uma pseudo-ladainha almejando uma pseudo-revolução através de suas letras insípidas e diluídas. Quando alguém resolveu sair às ruas pra reclamar de verdade, eles, que fazem parte do sistema, colocaram o rabo entre as pernas e estremeceram diante da possibilidade real de mudança, agora desmerecem as mobilizações demonstrando uma típica [e frágil] defesa da posição que conquistaram.

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  3. O problema aqui também Rico é que algumas pessoas aceitam essas opiniões, que, a meu ver e como você disse, tentam desconstruir as visões alheias. Isso não pode ser assim. Criticar pode assumir muitas faces: afinal, criticar o que? e por que?

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