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MANOEL DE BARROS: morre o poeta que ressignificou o “NADA”



por Fernanda Martins da Silva


Prestes há completar 98 anos morreu na quinta-feira de 13 de novembro de 2014 o poeta Manoel de Barros. Eternizado pela sua poesia do ínfimo o poeta nos deixa 26 obras. 

Manoel de Barros era o azul materializado, era o cheiro de mato. Ao longo de sua obra tentou trazer um pouco mais de humanidade com seu esquerdismo. Como relata o poeta,

“Minhas palavras são de meu tamanho; eu sou miúdo e tenho o olhar pra baixo. Vejo melhor o cisco. Minhas palavras aprenderam a gostar de cisco, isto é, da palavra cisco.” 

Com esse olhar para baixo Manoel de Barros monumentou as podres coisas do chão mijadas de orvalho. Com intenção de chamar a atenção para o Nada, para as coisas insignificantes, a poesia de Manoel de Barros traça uma crítica aos sujeitos individualistas e imediatistas que a sociedade moderna tem construído. 

O poeta cresceu brincando no terreiro, pé no chão, entre os currais e as coisas “desimportantes” que marcam a sua obra. “Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, caramujos, lagartixas. Era o apogeu do chão e do pequeno”. Nessa conjuntura Barros constrói os seus "nadifúndios", a partir do que viveu em sua infância no Pantanal. A sua obra toda é uma lembrança dessas vivências ressignificadas após sua militância no Partido Comunista. Manoel de Barros sempre buscou escrever personagens que vivem às margens da sociedade, como por exemplo: os loucos, andarilhos, pessoas abandonadas no Pantanal.

Para o poeta, fazer poesia é errar o idioma, errar as coisas, ser errante, aventurar-se, nunca andar na trilha, ser agramático. Considerando a poesia como uma aventura errática, compara-a com a existência dos andarilhos: “Os andarilhos não andam por caminhos traçados. Eles fazem seus caminhos. Mas não sabem aonde chegar. E se um dia chegam, eles nem desconfiavam”.

Manoel de Barros deixa para a poesia brasileira um pouco mais de NADA, deixa uma profunda reflexão sobre os abandonos e as ruínas. Lições que aprendi com Manoel de Barros: as coisas não querem mais ser olhadas por pessoas razoáveis; precisamos ser pré-coisas, nos despirmos do mundo concebido por conceitos para então encontrarmos as grandezas do ínfimo; perder o nada é um empobrecimento; ser mais da "invencionática" do que da informática; ser mais ocaso; só as coisas rasteiras celestam; é no ínfimo que está a exuberância etc. etc. etc.....


* Fernanda é estudiosa da obra de Manoel de Barros. Atualmente Doutoranda em História pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia, bolsista CNPq e membro do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (NEHAC).

** Foto do topo de Francisco Alves Filho (editada).

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