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O Senhor da Guerra só gosta de si mesmo





Muitos conhecem bem o refrão da música da Legião, "o senhor da guerra não gosta de crianças". Na verdade parece que ele (ou eles) só gosta de si mesmo. O que se esperar então de uma guerra?

No mundo dos humanos guerras sempre foram uma constante. Basta uma busca na internet para encontrar incontáveis relatos, documentários, fotos e imagens de gentes mortas e/ou se matando. As justificativas quase nunca justificam de verdade, mas as pessoas morrem de verdade.

Já disseram que guerras quando começam deixam de fazer sentido, ou ao menos perdem sua racionalidade. No início todos saem bravos e sorridentes, se tornando amargurados, bestializados e descontentes com o passar do tempo - ao menos os que ficam vivos para sentirem os traumas e carregar as marcas. Isso porque as guerras são planejadas em gabinetes de poltronas almofadadas, por senhores detentores de poder suficiente para decidir o futuro de nações, ou mesmo de continentes. Esses mesmos senhores que tomam vinhos, whiskies e vodkas caros, se deleitam em mapas superelaborados (hoje com vistas espaciais inclusive), contando vantagem pelas armas potentes e as máquinas de última geração que possuem.

Sempre me pergunto por que os humanos fazem guerra. Por que a paz não é a opção nessas horas? Às vezes as guerras surgem por rixas pessoais de aristocratas ou governantes, em alguns casos parentes, como na Primeira Guerra Mundial - George V, da Inglaterra, Nicolau II, da Rússia, e Guilherme II, da Alemanha, era primos. 

Por vezes, durante os combates, parentes (soldados e oficiais) se colocaram em lados opostos, defendendo ideais distintos, como na Guerra Civil Americana, onde uns defendiam a União e outros defendiam a separação dos Estados Confederados, incluindo aí escravistas e abolicionistas.

Guerrear quase nunca é uma opção, mas sim uma obrigação -  especialmente com o surgimento do serviço militar obrigatório. Obrigação com risco de virar deserção, sendo o infeliz nessa condição ou preso, ou fuzilado ou simplesmente ostracizado, perdendo com isso direitos, inclusive o de sentir-se parte da "pátria". Penso nesse sentido se desertar é mesmo covardia ou uma forma de resistência à violência dos combates? 

Guerra também é obrigação quando se tem o peso da honra, uma honra que por vezes custa a vida - muitas vezes, aliás. Ocorre assim com o desenvolver das cada vez mais potentes armas, que a destruição seja fácil e rápida e a vida torne-se ainda mais descartável. O que é então uma medalha na estante, quando o honrado não tem mais corpo e vida para se ornamentar e sentir a vitória?

Quem guerreia quase sempre não manda. E quem manda, quase sempre não guerreia. Logo dirão "mas se o líder morrer, quem vai nos levar à vitória?"  ou dirão ainda "mas, esses senhores que nos governam o fazem por serem mais capazes e hábeis!". Em alguns momentos da História os líderes comandaram de perto, combateram inclusive, como no Império Romano, onde Imperador era (ao menos no início) sinônimo de líder militar atuante; assim foi também com as invasões dos povos bárbaros ao mesmo Império depois. Mas, nem sempre é assim: na maioria dos casos, os "indesejados" vão na linha de frente, pra morrer primeiro, e numa sucessão de valorosos soldados a morte vai ceifando vidas, até cansar de levar consigo também civis inocentes, que não vestem farda ou armaduras, e deixam Azrael de levar consigo os senhores da guerra.

Aliás, sobre os civis, são os que sofrem sem poder se defender, ao menos na mesma medida de força que os soldados. Civis que veem suas plantações apodrecerem no sangue e nas larvas de corpos putrefazentes, ou serem inundadas de sucatas de máquinas que não lhe servirão para a colheita ou mesmo das infindas crateras que se tornaram constantes nas guerras do século XX. Civis que sofrem racionamentos, que tem que fazer "esforços de guerra", que são violados pelos que deveriam lhes proteger ou que tem suas casas invadidas sem nenhuma licença, quando não são desintegradas por bombas vindas do céu.

Já os senhores da guerra, após guerrear voltam a negociar, a trocar elogios, por vezes fazendo afagos, e mesmo a brindar novos acordos, como se nada tivesse acontecido. Negociar por vezes o petróleo conquistado, as minas dominadas e os territórios de influência demarcados.

Nobres cidadãos de mãos limpas e roupas engomadas, que mais do que os muitos que combateram diretamente recebem as glórias por "seus" grandes feitos e suas estratégias infalivelmente pensadas. Quando morrem finalmente, em muitos casos de causas não militarmente causadas (ou naturais), passam a habitar seus restos os panteões de heróis e as covas titânicas, que nem de longe são habitação dos despedaçados que não terão chance de encontrar suas partes para tomarem parte no juízo final.

No fim das contas, nada justifica a guerra e os extermínios que por vezes dela derivam. E ainda ficamos sem resposta satisfatória para a pergunta sobre o que esperar no final, quando ganham os louros nossos amos, escolhidos ou não, Senhores da Guerra que são. 

Dica de livro:


de Geoffrey Blainey

* Montagem do topo com foto de divulgação do filme O Destemido Senhor da Guerra, dirigido e estrelado por Clint Eastwood.

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