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Zé Butina, um homem viajado



Nosso personagem é homem viajado, com muitos lugares visitados. Do interior de São Paulo o Zé já partiu em muitas jornadas, estando no sertão por diversas vezes, deixando rastros em Goiás, Mato Grosso, e nas Minas Gerais. 

Quem lhe ajuda a contar a história de hoje é seu filho Zeca, homem letrado que cresceu já na cidade.

Meu pai me pediu para ajudar ele contar as histórias pra vocês, enquanto ele senta pro café, olhando ao longe, na cadeira de fios. “O paieiro já não fumo mais” – pede ele pra lembrar.

Contou pra mim várias histórias e causos, dizendo que já fez parte de comitivas, trouxe muitas boiadas pro interior de São Paulo. Isso desde as épocas de moço, quando tinha muita disposição e não temia as durezas que as aventuras traziam. Saiam a cavalo (às vezes de mula também) em épocas que caminhão era luxo e carros não eram realidade para ele e os homens aparamentados que lhe seguiam.

Nóis ia buscá uns alimar – ele resmungou no seu cantinho –. Às veiz era muitos que tinha que trazê, guiano por muitos lugar que as veiz dava medo.  

E... e por falar em medo, não eram poucas as armadilhas que a natureza lhe oferecia: não era raro ver serpentes e onças, como as que viu passando nos acampamentos a noite, com seus olhos brilhantes, e os urutus que enquanto viajavam por pouco lhe erravam os botes. 

Tinha tamém os ladrão da estrada – pede ele pra contar, com olhar tristonho. Gente marvada, que era pirigosa, que as veiz matava gente conhecida nossa. Como aconteceu com o compade Joca que tocaiaro numa ida pra Rio Verde, Goiás. 

Era um camarada bão, tocava viola nus acampamento e fazia a alegria da rapaziada. A moçada dizia até que ele um dia ia gravá um disco na cidade grande, ia ficá famoso e ia abandoná a gente... Mas agora tá nu céu coitado. 

Num teve nem chanche de se defendê... Quando os bandoleros aparecero, já chegaro atirano, dizendo que ia levá os gado da gente. Eu e os otro que tavam com ele consiguimo corrê e se escondê nu mato. Até pensamo em si defendê, mas os bando dos tirano era muito grande. Naquele dia não tinha muito gado, mas tudo se perdeu.

Mas pobre do cumpade Joca.

Mas não tinha como procurar justiça nessas horas pai? 

Tinha não. Era como dizia os cumpade, por aquelas banda era terra di ninguém, terra sem lei.

Pois então Seu Zé. Me lembro que já esteve outras vezes no estado de Goiás...

Sim – diz ele antes de mirar o horizonte novamente –, mas nóis passemo a chamá mais gente pra i junto. Não ia mais em poquinho não. 

Foram também para Mato Grosso, pro sul do estado que naquela época ainda não era Mato Grosso do Sul. Pra Minas foram menos, mas passaram algumas vezes.

No Mato Grosso a gente tinha medo de índio – diz ele de novo –. Os povo dizia que eles era pirigoso e que matava gente, mais nem sei se era mémo ansim. Só teve uma veiz que uns índio aparecero pra gente, uns 3 o 4... Mas eles tava cum fome, dizeno que tinha sido perseguido por uns capanga de um fazendero uns dia antes. Eles falava uma lingua dificir, diz que é guarani, mas nóis acabemo se intendenu. Comeru com a gente e si foru. Nunca mais vimu... ... ...

Queria ainda fazer umas perguntas pro senhor pai... Pai!? Eita, o Zé dormiu! Bom, depois ele conta mais coisas pra vocês. Tchau pessoal.

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De Caipira a Universitário
Edvan Antunes
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Pedimos a gentileza, caso queiram usar o texto, que citem a fonte. Grato!

* A imagem do topo foi montada a partir de outra que encontramos na internet. Se alguém souber a fonte, ficaríamos contentes em citar.

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