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A Devastadora Peste Negra




Saber sobre a Peste Negra é muito importante nesse momento, conhecendo seus motivos, como ela se espalhou pela Europa e os seus efeitos tão devastadores. 

Nesse momento tenso, a História precisa estar entre nossas preocupações mais próximas, como um auxílio necessário nas reflexões. Com ela veremos semelhanças com o presente e com ela devemos aprender. Esse é o caso da Peste Negra, Peste Bubônica ou Morte Negra, que assolou a Europa por séculos, especialmente no século XIV (14), quando sua incidência foi maior e quase generalizada na Europa. 

Naquele período a Europa ainda vivia a Idade Média - a Baixa Idade Média -, que acabaria poucos séculos depois. Transformações já vinham ocorrendo, especialmente com o crescimento das cidades, o aumento do comércio e, consequentemente da importância do dinheiro. O século XIII (13) havia sido muito importante nesse sentido, havendo, segundo o historiador Jacques Le Goff no livro A Idade Média e o Dinheiro, uma grande movimentação comercial, especialmente no Mar Mediterrâneo (aquele que banha tanto o norte da África, como o sul da Europa, como ainda o Oriente). Devido ao revigoramento das cidades e do comércio por ele circulavam navios, mercadorias e pessoas, destacando-se, entre outras, as cidades italianas.

A Peste Negra teria então surgido nesse contexto, por volta do ano de 1346, ou seja, no século XIV (14). Trata-se de uma doença grave e muitas (muitas mesmo) vezes fatal causada pela bactéria Yersinia pestis. Para se entender melhor o que diremos a seguir, vale ainda dizer que ela se divide em 3 tipos: Peste bubônica ou Peste negra, quando se manifesta na pele, através de bulbos;  Peste septicêmica, quando a bactéria se multiplica no sangue; e a Peste pneumônica, quando é acompanhado do desenvolvimento de uma pneumonia. Em geral, dependendo do tipo, os sintomas incluem febre, dor de cabeça, cansaço, ínguas na pele (bulbos), dificuldades para respirar, tosse constante, sangramentos, podendo ainda a pele ficar negra por causa da morte dos tecidos (se quiser saber mais sobre sintomas e cuidados, clique aqui).

Mas voltemos à história. Segundo a versão mais comumente aceita, a Peste teria sido lavada para a Europa da Ásia nos navios mercantes, carregada pelos ratos que faziam companhia aos tripulantes. Ao chegar na Europa, pelos portos italianos ela teria se espalhado em velocidade assustadora, chegando a quase todo território europeu em poucos anos. Raras exceções foram apenas alguns locais que fazem parte de países existentes hoje, como Alemanha, Polônia e República Tcheca, além de pequenas "ilhas territoriais" na Itália, na França e na Espanha, que praticamente não foram atingidas.


Original by Roger Zenner (de-WP) Enlarging & readability editing by user Jaybear / CC BY-SA

Teriam contribuído para o seu espalhamento, entre outras coisas: as péssimas condições sanitárias da época, o que incluía a falta de saneamento adequado (quando existia) e a sujeira nos espaços coletivos das cidades que estavam em franco (e, por vezes desordenado) crescimento. Também os hábitos da população, que convivia com ratos, por exemplo, sem grandes constrangimentos. Além da comum impureza das águas. 

Depois que ela apareceu, teria contribuído para sua multiplicação o desconhecimento sobre a mesma - dizendo de início a igreja católica, por exemplo, que se tratava de um pecado grave cometido pelo povo, portanto, sendo a Peste um castigo de Deus. O que fez muitas pessoas irem às igrejas em busca de redenção, fato que só ajudou a espalhar ainda mais a Peste, inclusive para os clérigos. Ajudava a disseminar também o fato de as pessoas serem enterradas, pelo menos enquanto ainda havia espaço, nos terrenos das igrejas. 


Um médico nos tempos de Peste

Não ajudou muito também a medicina da época, que sabia quase nada do que se tratava, que era muito rudimentar e pouco fazia além de cumprir um papel paliativo, de alívio para alguns doentes. Mas, ao mesmo tempo, acabava ajudando a transmitir para outras pessoas, inclusive para os próprios médicos.

Não podemos esquecer que por esse período, tomar banho não era uma prática muito comum, não sendo raro as pessoas tomarem banho apenas uma meia dúzia de vezes NO ANO! Aliás, muitos acreditaram - pelo menos por um tempo - que tomar banho ajudava a espalhar a Peste!

Enfim, vale ainda dizer que, conforme o número de mortos aumentava, passou a não haver mais lugar para enterrar os corpos, o que acabou levando, não raras vezes, a enterros coletivos e mal feitos. Nem precisa dizer que muitos desses túmulos coletivos acabavam ajudando a propagar a Peste, já que, entre outras coisas, contaminavam solos e lençóis freáticos. Em Paris, por exemplo, que era uma das maiores cidades daquela época, muitos foram "enterrados" em tubulações de esgoto, que foram depois lacradas, acumulando uma pilha de esqueletos, como na foto abaixo.




Somando esses e outros fatores, os números são macabros: há estimativas que colocam as mortes entre 75 e 200 milhões! Isso representaria mais ou menos 1/3 da população europeia, que na época se considerava o centro do mundo - ou o próprio "mundo" mesmo. Cidades e regiões inteiras ficaram vazias - inclusive castelos, cuja higiene é maquiada em filmes e séries por aí para parecerem mais clean. Os efeitos da Peste Negra seriam tão significativos na redução demográfica que os níveis populacionais europeus do período anterior à mesma só seriam recuperados no século XVII! 

O impacto da Peste Negra foi tão grande na vida e mentalidade das pessoas, que como resultado, surgiu a alegoria artístico-literária do final da Idade Média que recebeu o nome de Dança Macabra.


 dança macabra

E o que contribuiu para "erradicar" a Peste? Ela não desapareceu depois do século XIV, tendo voltado de forma intermitente nos séculos seguintes, até diminuir drasticamente no século XIX. Com o tempo as condições de higiene foram melhorando significativamente, muitas pessoas foram se conscientizando - inclusive da necessidade de manter espaços públicos e privados mais limpos e, inclusive, da necessidade de tomar mais banhos. Além disso, estudos foram surgindo, ações mais eficazes foram sendo tomadas por governantes e populações em geral.

E hoje em dia, ela ainda existe? Segundo a Infectologista Sylvia Hinrichsen em seu site Tua Saúde,

"Nos dias de hoje é bastante rara, sendo mais frequente em alguns locais da África subsariana e nas ilhas de Madagáscar, por exemplo. Já no Brasil, os últimos casos relatados foram após o ano 2000, com apenas três casos em todo o país, na Bahia, no Ceará e no Rio de Janeiro.


Quando existe suspeita de peste negra é muito importante procurar ajuda médica o mais rápido possível, pois em pessoas que não fazem o tratamento em 48 horas as chances de cura são muito reduzidas".



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Mapa: https://pt.wikipedia.org/wiki/Peste_negra#/media/Ficheiro:Bubonic_plague_map.PNG


* originalmente postado em 24/mar./2020

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