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Historiadores em Perfil: E. P. Thompson




Edward Palmer Thompson ou apenas E.P. Thompson fez escola, foi militante político, mudou de concepção e mudou também a forma de se analisar a sociedade capitalista e a forma de se fazer história. 

Ele nasceu em Oxford, em 3 de fevereiro de 1924 e morreu em Worcester, em 28 de agosto de 1993. Estudou em Cambridge e foi professor em várias universidades, dentro e fora da Grã-Bretanha. Foi, por exemplo, professor da Universidade de Warwick de 1965 a 1971 e, nos anos 1970, ensinou esporadicamente em universidades americanas. Teve ainda uma grande atuação na educação de jovens e adultos, em sistemas organizados tanto pelo Partido como pelas universidades em que ele atuou.

Sua orientação era marxista, mas passou por mudanças de pensamento, na forma como entendia o marxismo, e, como ocorreu com outros intelectuais marxistas, ele mudou a forma de entender a sociedade e a ação humana. Um dos pontos interessantes sobre a trajetória de Thompson é que ele (e outros historiadores ingleses) rompeu com a ortodoxia marxista, especialmente aquela dominada pelo "pensamento" stalinista. Nesse sentido, em seus estudos ele foi além do aspecto econômico - ou economicista -  que dominava os trabalhos e ações de político e pensadores marxistas de sua época. E. P. Thompson valorizou o papel do aspecto social e da cultura - do contexto cultural - na formação dos indivíduos e das sociedades, inclusive aquela em que viveu e militou ativamente. Ele valorizou o diálogo entre a história e as demais ciências sociais.

Thompson participou da Segunda Guerra Mundial, como muitos intelectuais da época. Sua participação se deu na Itália fascista de Benito Mussolini, onde foi sargento num regimento de tanques britânicos na Campanha da Itália (1943-1945). 

Depois dos conflitos, já no Partido Comunista Inglês, em 1946 ele integrou um grupo de estudos históricos marxistas junto com Christopher Hill, Eric Hobsbawm, Perry Anderson, Rodney Hilton, Dona Torr, dentre outros. 



Também depois da Guerra ele passou a militar por uma série de causas sociais diferentes e importantes, de forma teórica, através da publicação de livros e artigos, ou de forma prática, na ação direta em manifestações de rua e universitárias. Dentre essas estava a luta pela da paz mundial, contra as armas atômicas e contra as ações das duas potências que criticava, tanto os EUA como a URSS - mas também as ações da Grã-Bretanha. Se destacou também nas questões dos trabalhadores, em geral, e as que diziam respeito aos povos africanos, pela sua libertação do Imperialismo e sua autoafirmação. 

Uma mudança radical em sua posição política ocorreria em 1956. Depois do levante na Hungria e a repressão soviética que se seguiu e após também as denúncias de Nikita Khrushchev sobre os expurgos de Yosef Stálin, E.P.  Thompson rompeu com o Partido Comunista Inglês. Isso fazia parte do movimento mundial que ficou conhecido como New Left (ou Nova Esquerda), que envolveu no caso inglês outros historiadores marxistas, como os que citamos há pouco. Por essa mesma época, juntamente com John Saville, ele fundou o jornal dissidente Reasoner, que a partir de 1957 passou a se chamar The New Reasoner. Com esse jornal ficaria clara a sua oposição pública ao Stalinismo no Partido Comunista ― do qual era, havia muito tempo, dedicado integrante. A ação política passaria então a ser colocada acima do Partido e da ortodoxia marxista

Ele ainda atuou como pacifista anti-nuclear, especialmente nos anos 1980. Nesse último contexto, foi o líder de um movimento contra a instalação de mísseis de média distância norte-americanos em países da OTAN na Europa.



Seu trabalho mais conhecido é A formação da classe operária inglesa, lançado em 1963, em que analisa a formação da consciência de classe na Inglaterra antes, durante e como resultado da Revolução Industrial de fins do século XVIII. Nesse sentido, ele parte da classe trabalhadora em sua diversidade de origens, desde os artesãos que se tornariam proletários com a revolução; assim, analisa como esses agiam e como foram identificando cada vez mais os interesses que tinham em comum, tomando consciência de sua posição, formando associações e sindicatos... Para ele os trabalhadores não eram apenas dados de uma composição estatística, mas sim atores de uma vida/sociedade/história mais rica, além de complexa. Segundo o professor Jiani Langaro afirmou ao nosso blog, é importante destacar que 

"Para Thompson, a classe social não é uma estrutura formada pela Revolução Industrial. Mas ela estaria mais para um grupo social ou uma formação social, que é um termo que o grupo dele costumava utilizar, resultado da ação dos próprios trabalhadores, a consciência de classe que é produto da ação desses trabalhadores. Por isso ele busca a origem da classe trabalhadora no período pré-industrial, lá nas manufaturas, porque não seria a Revolução Industrial a criar a consciência de classe: seria esse trabalho e esse esforço de organização que vinha de antes".


 livro a formacao da classe operaria

Seu último grande livro se tornaria mais um clássico da Historiografia, Costumes em Comum, lançado em 1991. Nele Thompson deixaria transparecer todo seu interesse pela "cultura popular", analisada sob a perspectiva da "história vista de baixo". Trata-se de uma investigação do significado, da permanência e da transformação de certos costumes populares do século XVIII inglês. É uma história do trabalho, motins, radicalismo, crime, costume, lei, sedição e cultura populares, num diálogo com outras ciências, especialmente a Antropologia, o Direito e a Economia. Os objetos de estudo são os hábitos dos setores populares britânicos, como a defesa do uso comunal das terras quando da intensificação do processo de cercamentos, a venda da esposa em leilão como estratégia de divórcio, as novas noções de tempo trazidas pelo capitalismo industrial ou a cruel punição aplicada a quem desrespeitasse as regras dos vilarejos. "Esses costumes e tradições são estudados nesse livro como defesas de direitos imemoriais ou estratégias de manipulação da lei numa sociedade que se defrontava com as novas imposições do capitalismo" (nota da editora Companhia das Letras).



E.P. Thompson inspirou (e continua inspirando) muitos trabalhos e grupos de estudos no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Em nosso país, entre outros espaços dedicados à História Social e Cultural, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por exemplo, se usa fartamente os trabalhos de E. P. Thompson como ponto de partida e referência. Segundo o professor Paulo Pinheiro Machado, 

"Thompson tem muita influência no Departamento de História da UFSC (forte influência em duas linhas de pesquisa: História Global do Trabalho e História Política no Mundo Contemporâneo) e há um Laboratório no Departamento de Sociologia Política (LASTRO), que tem publicado textos traduzidos até então inéditos do Thompson".

Se quiser saber um pouco mais sobre a influência de Thompson em nosso país, você pode baixar uma comunicação de Marcelo Badaró Mattos intitulada justamente E.P. Thompson no Brasil.

Agora, caso queira conhecer mais sobre esse autor, existe, entre outros, o livro E. P. Thompson: Política e Paixão, organizado por Ricardo Gaspar Müller e Adriano Luiz Duarte. Tem o e-book E. P. Thompson: História, educação e presença, organizado pelos professores Antonio de P. Bosi, Aparecida D. de Souza e Sérgio Paulo Morais. Há um outro, de autoria de Parry Anderson, intitulado Teoria, Política e História: um Debate com E. P. Thompson. Um outro, em inglês, de Tim Rogan, coloca Thompson ao lado de outros importantes críticos do Capitalismo, cujo título é The Moral Economists: R. H. Tawney, Karl Polanyi, E. P. Thompson, and the Critique of Capitalism. Também em inglês, tem o livro Doing History from the Bottom Up, de Staughton Lynd. Em meio aos inúmeros títulos temos ainda The Crisis of Theory, de Scott Hamilton, e Puritanism & Revolution, de Christopher Hill.


Os livros desse autor:



A Miséria da Teoria / título original The Poverty of Theory

Costumes em Comum (1991)/ título original Customs in Common / edição espanhola Costumbres en Común

A Economia Moral Revisitada

A Política e a Teoria







Agenda Para Una Historia Radical

La Guerra de las Galaxias / título original Star Wars: Self Destruct Incorporated

Más Allá de la Frontera: la Política de Una Misión Fracasada: Bulgaria, 1944




Communism of William Morris

Britain and the Bomb




Human Rights and Disarmament




Defence of Britain

Infant & Emperor

New Hungarian Peace Movement

Zero Option

Beyond the Cold War

Unknown Mayhew


Mad Dogs: The U.S. Raids on Libya



Panfletário Antifascista (edição com textos panfletários, com dois inéditos em português, download gratuíto)

Livro destaque desse autor:
 livro a formação da classe operária inglesa
A Formação da Classe Operária Inglesa
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Para ver outros Historiadores em Perfil, clique aqui!

* Essa postagem é só um guia rápido desse historiador. Se você souber de alguma incorreção ou tiver algum acréscimo de conteúdo a essa postagem, mande-nos nos comentários. Muito obrigado!


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* originalmente postado em 18/mar./2020

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