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Historiadores em Perfil: Peter Burke




Peter Burke é um grande historiador inglês, amplamente conhecido no Brasil por seus estudos de Historia Moderna e por suas contribuições em torno do ofício do historiador!

Peter Burke nasceu em Stanmore, Inglaterra, em 16 de agosto de 1937. Historiador de formação, se tornou Doutor pela Universidade de Oxford em 1962. Desde então tem atuado em diversas instituições inglesas, como a Universidade de Essex, a Universidade de Sussex, a Universidade de Princeton e, atualmente, desde 1979 é professor emérito da Universidade de Cambridge. Deu aulas também no Brasil por um curto período de tempo, como professor visitante da Universidade de São Paulo (USP), entre setembro de 1994 e setembro de 1995. Também escreveu com frequência como colunista da Folha de São Paulo.



A especialidade de Peter Burke é a História Moderna Europeia. Ele estuda esse período, assim como os demais temas pelos quais vem se interessando, a partir da História Cultural, ou seja, da tradição surgida nos anos 1960-1970, frequentemente combinando as abordagens da Antropologia e da história para olhar para a "cultura", tanto olhando de cima, a partir da elite ou coisa que o valha, como também "olhando a partir de baixo", do popular, fazendo assim suas interpretações culturais da experiência histórica e humana. Exemplo desse último ponto de vista é seu livro Cultura Popular na Idade Moderna, onde pensa a Europa como um todo, sem fronteiras nacionais, no longo período que vai de 1500 a 1800. Nesse livro ele explicita os valores e atitudes de artesãos e camponeses, revelando seu conteúdo contestatário, e ainda propõe que foram os esforços doutrinadores da elite, paradoxalmente, que resultaram na separação das culturas, no seio de uma mesma sociedade. 

Já em relação a "vista de vista", das elites, poderíamos citar, por exemplo, o livro A Fabricação do Rei, que se dedica a analisar a construção da imagem pública do maior representante do Absolutismo, Luís XIV, o Rei Sol. Trata-se de um estudo que traz luz sobre a relação entre arte e poder e a mecânica de elaboração da imagem de um rei ao longo de seus setenta anos de reinado. O livro discute o elemento de propaganda implícito na fabricação de um símbolo, o aperfeiçoamento e a manipulação da mídia no século XVIII, os canais de comunicação (oral, visual e escrita) e seus códigos (literário e artístico), além do público-alvo e sua reação a tal "massacre publicitário". Sem se limitar ao seu personagem e sua época, Peter Burke ainda compara e contrasta a imagem pública de Luís XIV com a de outros soberanos, como o imperador Augusto e presidentes norte-americanos de nossos dias. 



Mas, apesar de se dedicar a História Moderna Europeia, Peter Burke não se limitou ao longo de sua trajetória aos estudos da Europa. É um dos grandes especialistas, em nível mundial, na obra de Gilberto Freyre (o escritor brasileiro de Casa Grande e Senzala e Sobrados e Mucambos). Aliás, com sua esposa, a professora brasileira Maria Lucia Pallares-Burke, escreveu o livro Repensando os Trópicos, um retrato intelectual de Gilberto Freyre lançado no Brasil pela Editora Unesp em 2009.  


Peter Burke é autor da famosa frase "a função dos Historiadores é lembrar a sociedade o que ela quer esquecer". Mas, o mesmo sempre procurou mostrar também que as explicações históricas não se esgotam, sendo "importante reescrever a história a cada geração. Cada geração, vivendo com os problemas do presente, interroga o passado pensando em suas próprias questões" (Entrevista para o Globo, 2008). Isso se liga em nosso tempo presente, segundo Burke, às nossas formas de escrever e de usar novas ferramentas, como a Wikipedia, que apesar de seus problemas ele vê como positiva e útil para a difusão de conhecimentos.



Ele promove há tempos discussões em torno do ofício do historiador, tendo escrito diversos artigos, publicado livros de sua autoria e organizado outras obras coletivas. Fortemente influenciado pela Escola dos Annales, especialmente sua Terceira Geração, ele escreveu, entre outros, os livros A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia, assim como organizou também os livro A Escrita da História, Formas de Fazer História e O que é História Cultural? (veja bibliografia mais completa do autor no fim da postagem).


o que é história cultural peter burke

A partir da discussão sobre narrativa, ele considera o ato de escrever a História algo como um gênero literário autônomo - assim como a épica, a lírica e a dramática. Para ele, o historiador se mantem num meio caminho, no tênue limite entre o fato concreto e a ficção. Assim, segundo ele, o historiador pode e deve reivindicar para si as virtudes do ficcionista, desde que contrabalançadas pelo apego ao dado concreto: 

"Os historiadores precisam manter-se colados à evidência, mas precisam também usar sua imaginação, especialmente para interpretar os fatos brutos" (Entrevista à Folha, 11/set./1994).

Bom, por enquanto é isso. Caso queira saber mais sobre esse autor ou as discussões em que ele está inserido, existe, entre outros, o volume 3 da série Os Historiadores Clássicos, organizado por Mauricio Parada, com um capítulo escrito José D'Assunção Barros; há ainda o livro Teoria da História, vol. V: A escola dos Annales e a Nova História, de José D'Assunção Barros, Estudos de História e Historiografia Estudos de teoria da história e historiografia, esses dois últimos de Francisco Falcon.



Os livros desse autor:


The Italian Renaissance (1987) / com edição em português com o título O Renascimento Italiano



Formas de fazer História (1991)

A Escrita da História (1991, obra coletiva)

Amsterdã e Veneza: um estudo das elites dos séculos XVII (1991)



Falar e Calar (1996)

Varieties of cultural history (1997) / edição brasileira com o título Variedades de História Cultural


New perspectives on historical writing (2001) (editor e contribuidor)

Eyewitnessing (2004) / com edição em português com o título Testemunha Ocular

What is Cultural History? (2005) / com edição em português com o título O que é história cultural? 



Línguas e jargões (obra coletiva organizada com Roy Porter)

Linguagem, indivíduo e sociedade (obra coletiva organizada com Roy Porter)

História social da linguagem (obra coletiva organizada com Roy Porter)

A tradução cultural (obra coletiva organizada com Po-chia Hsia)



A Social History of the Media (em parceria com Asa Briggs) com edição em português com o título Uma história social da mídia: De Gutenberg à internet 

What is the History of Knowledge? com edição em português com o título O que é história do conhecimento?

Os ingleses (em parceria com Maria Lucia Garcia Pallares Burke)


O historiador como colunista (livro contendo textos publicados por ele na Folha de São Paulo)




Gilberto Freyre: Social Theory in the Tropics (em parceria com Maria Lucia Garcia Pallares Burke) / edição em português Repensando os Trópicos 




The Book Worlds of East Asia and Europe, 1450–1850 (editor em parceria com Joe P. McDermott)

History of Humanity - Scientific and Cultural Development (editor em parceria com Halil Inalcik)

Towards a Social History of Early Modern Dutch

Una historia cultural del humor

Educación y transmisión de conocimientos en la historia (organizado em parceria com José Luis Martín Martín, Tereza Navas Rodríguez e Jean-Louis Guereña)


Circa 1808: Restructuring Knowledges






Siege of O'Okiep: Guerrilla Campaign in the Anglo-Boer War

Social Change in the Sixteenth Century





Livro destaque desse autor:
livro burke escola dos annales
A Escola dos Annales
Clique aqui!


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*originalmente postado em 9/abr./2020.

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