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Como o Imperialismo deu (e dá) certo? | José A. Fernandes



Acho que não sou só eu que faz essa pergunta: como a Europa, os Estados Unidos, a Rússia ou outra potência dominaram e dominam o mundo? Como mantém a sua influência e poder sobre os dominados?


O Imperialismo que se iniciou no século XIX já foi assunto de alguns vídeos do Canal (O que é Imperialismo? e Imperialismo na África) e textos aqui do Blog. Afinal, é um assunto fundamental para entendermos o que acontece ainda hoje ao redor do mundo. E a pergunta título a princípio já levaria a uma resposta relativamente simples: esses países dominam os demais porque são mais fortes, mais ricos e conseguem se impor ideologicamente. Mas, vamos por parte e vejamos um pouco mais sobre isso.


Em tempos ainda mais distantes que o século XIX, quando os portugueses e espanhóis dominaram pontos importantes da África e da Ásia, na chamada Era dos Descobrimentos ou primeiro "período colonial", eles conseguiram construir entrepostos, impor condições, reprimir desvios. E fizeram isso em um momento em que não haviam as armas avançadas que veríamos depois. Mas, eles conseguiram, se impuseram, tiraram proveito, carrearam produtos e corpos no período escravocrata. Foram seguidos por outros países da época, especialmente Inglaterra e Holanda.

Mas, quando chegamos ao século XIX, muita coisa havia mudado. A Inglaterra era a grande potência, a "fábrica do mundo". Dominou por muito tempo a "economia mundial", se pudermos chamar assim. Assim como dominou e impôs sua vontade sobre Índia e China mesmo antes do momento que definimos com mais frequência como Imperialismo ou Neocolonialismo (anos 1870 em diante). 

E a Inglaterra fez isso porque tinha as armas certas, tinha o controle dos mares, podia impor vontades e fazer "ofertas irrecusáveis". Ainda que tudo isso levasse à morte de milhões de pessoas por fome na Índia (1876–1878, mas não só) ou ao vício generalizado do ópio (droga do momento) na China.

Quando os demais países entraram de vez na corrida imperialista, especialmente a partir dos anos 1870, muita coisa já passava por profundas mudanças novamente. Era um momento de novas e importantes invenções e inovações, que se incluiam no que muitos conhecem como Segunda Revolução Industrial. Surgem então dois novos países, duas novas potências (Alemanha e Itália), que não existiam até então, cujos diversos reinos e ducados que lhe comporiam eram fracos sozinhos para se impor, política e economicamente, e que por isso decidiram se unir. 

A França, velha conhecida, começava a mostrar alguma força. Apesar de viver reviravoltas e períodos conturbados, como a guerra contra os alemães que lhe tiraram Alsácia-Lorena (Guerra Franco-Prussiana, 1870 a 1871). 

Somado a esses países, um personagem inesperado, a Bélgica, país minúsculo, já tomava posição em um território gigantesco na África, o chamado Congo Belga.


Mapa do Congo Belga


A Rússia, por sua vez, era um país rural, atrasado economicamente, mas era vista como potência por seu tamanho e ligações dinásticas com os demais países europeus. Dominava regiões que depois comporiam países separados ou disputava outros territórios dentro da própria Europa ou na Ásia.

Somariamos ainda o Império Turco-Otomano, centenário mas decadente, e o Austro-Húngaro, enorme domínio dentro da Europa.

Falta, enfim, colocar em nossa lista os Estados Unidos. Um país em ascenção, fora do Velho Mundo, um destaque "inusitado" em meio a países supostamente destinados a ser superiores. Estados Unidos que já tinham se definido depois da Guerra Civil e que nos anos finais do século XIX já mostravam destacada força econômica, embora ainda não tivessem ideia (penso eu) de que se tornariam A Grande Potência Mundial nas primeiras décadas do século XX.

Não precisamos aprofundar aqui que as rivalidades entre essas potências (fortes ou decadentes) levariam depois à Primeira Guerra Mundial, isso você pode ler em outro texto aqui do blog. O que importa aqui é como a maioria dessas potências expandiu seus territórios para a África, a Ásia e as Américas, e conseguiu os manter ou renovar seu domínio.

Cada uma a sua maneira, como já vimos quando falamos do Imperialismo em geral, foi dominando e expandindo territórios. Liderados pela Inglaterra, elas se impuseram. Países grandes, pequenos, avançados economicamente e mesmo atrasados como a Rússia. Tomaram territórios diretamente, como ocorreu na África; dominaram de forma mais ou menos indireta, como ocorreu com a Índia e a China; ou ainda como os Estados Unidos fizeram com o resto da América.

Para fazer isso, diversas ferramentas foram usadas. Cada região com seus "gostos", sempre segundo a "preferência" dos colonos e sujeitados, dependendo de como reagissem. 

Em muitas regiões da África, o uso da força foi fundamental para se a potência dominante se impor e se manter, fazendo uso de armas novas, que se tornavam cada vez mais destrutivas: canhões mais arrasadores, rifles aprimorados, munições mais mortíferas... Claro que também se usaram formas mais "simples" de castigo, impostos por meio de mutilações e marcas no corpo, por exemplo. A prisão se somou a isso, assim como execuções por rebeldia ou insubordinação.

Da mesma forma, a força foi fundamental em outros lugares. Como ocorreu na China, quando os governantes chineses decidiram não aceitar a venda do ópio. O resultado foi uma guerra entre os ingleses e Império Qing nos anos de 1839-1842 e 1856-1860. Outros exemplos ainda poderiam ser dados, como a Guerra dos Sipaios, realizada por soldados hindus e muçulmanos, contra a dominação e exploração britânica, considerada o primeiro movimento de Independência da Índia. Guerra que acabou com mais uma vitória dos ingleses em 1859 e em um endurecimento do regime de dominação, que passou então a ser direto por meio do estabelecimento de um vice-reinado inglês na Índia.

A questão do ópio, droga que levou China e Inglaterra à Guerra

Mas, a força não era o único meio. Havia também a persuasão. Isso se dava de diversas formas, onde as potências imperiais procuraram mostrar, por exemplo, as vantagens para os dominados de se sujeitarem. Estariam eles ganhando. Afinal, teriam contato com a "civilização", com a "modernidade", superariam seus supostos atrasos. Quem sabe deixassem sua condição de "barbarie", evoluindo - se bem que, dentro das ideias eugênicas e social-darwinistas, continuassem sendo vistos  como "raças inferiores".

De qualquer forma, aprenderiam a cultuar o "deus certo", da religião "verdadeira". Veriam avanços ocorrerem na estrutura de seus países, com estradadas de ferro, portos e instituições que como "incivilizados" antes não possuíam.

O progresso do trem em contraste com o tradicional
em colônia africana.

Se essas "vantagens" todas não fossem suficientes, havia ainda o subordo ou a possibilidade de ascenção ao poder para elites antes sem força para se impor. Elites que estariam na "crista", mandando - ainda que em último caso mandados pelos colonizadores. Mas, afora os que dissimularam, fingiram se sujeitar ou os da elite política e social que se rebelaram contra o regime imposto, os demais ganhariam com mercadorias "de última moda e geração", com a possibilidade de ir ou mandar seus filhos aprenderem na Europa ou nos Estados Unidos. Ganhariam com os "prêmios" pagos por serem "bons meninos".

Para outros, de forma talvez mais simples, a presença estrangeira foi a oportunidade de ganhar financeiramente entrando em milícias armadas. Ainda que contra seus próprios conterrâneos.

O certo é que os imperialistas conseguiram e ainda conseguem se impor. E em muitos sentidos só se enfraqueceram quando decidiram disputar entre si, como ocorreu na Primeira Guerra Mundial. Como ocorreu com as "áreas de influência" ou mesmo de dominação do período que conhecemos como Guerra Fria, especialmente nos seus momentos final. Como ocorre atualmente em disputas diplomáticas e enfrentamentos localizados, mas não menos deletérios e mortíferos.

Potências que conseguiram e conseguem se impor, ainda que movimentos de libertação tenham ocorrido no caminho. Separações, criação de novos países, ganho de autonomia - como se deu, por exemplo, pelos países do antigo bloco soviético, como a Ucrânia e mais uma dezena de outros, dentre os quais muitos descontentes com a condição em que viviam até 1991. Mas, também poderiamos citar as regiões do Oriente Médio e seus problemas infindáveis, somados às agressões por interesses diversos - interesses sobre petróleo (Afeganistão, Iraque...) ou contra o desenvolvimento de equipamento nuclear (Irã).

Mas, a história é dinâmica e muitas autonomias conquistadas ou avanços que parecem sem volta, são postos em cheque. Como vemos ocorrer com áreas de influência das potências atuais: desde os Estados Unidos e sua necessidade de intromissão nos assuntos dos países que representem "ameaça" aos seus interesses; passando pela China e a questão de Taiwan, mas também uma atual suposta dominação imperialista na África; chegando pela atualíssima questão da Rússia e sua ânsia por dominar a Ucrânia, mas não só.

Ofensiva russa na Ucrânia

Dominação que ainda hoje se dá pela imposição de força, somada a outras formas de "negociações" e diálogos. Mas, especialmente no que diz respeito ao uso da força, temos depois de décadas do início do que chamados de Imperialismo ou Neocolonialismo o enorme avanço na capacidade de destruição, com armas nucleares e mísseis ultrassônicos. 

Mas, nesse contexto, quem estuda pode chamar de nomes diferentes a dominação das potências do momento. O que é compreensível, afinal, não é tão simples definir o que ocorre no mundo em termos econômicos ou geopolíticos, nem mesmo apontar "mocinhos" e "bandidos" - isso porque toda forma de maniqueísmo é um baita desserviço a humanidade. Eu posso estar errado, mas ainda tenho uma inclinação por chamar esses movimentos das potências mundiais, seja quais forem, de "imperialistas". 


Mas, não tenho pretensão de ter a verdade com esse texto, apenas fazer uma reflexão que acho importante.


Veja o vídeo sobre Imperialismo e não esqueça de interagir conosco!


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Assista também ao nosso outro vídeo Como fui pra Argentina de ônibus (e o que fiz lá)clique para ir!


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