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As DITADURAS do Brasil e da América seriam possíveis sem o apoio dos Estados Unidos? Quais as possibilidades hoje?

 



Já parou para pensar sobre a dependência internacional do Brasil e dos países latino-americanos? Uma forma interessante de fazer isso é pensar nas ditaduras que o continente viveu e sua ligação com os Estados Unidos. Daí continuarmos no sentido da pergunta que dá título a esse post e ainda se seria possível que essas experiências se repetissem atualmente.


Um dos momentos mais lamentáveis da história do Brasil começou em 1964 e os Estados Unidos tiveram um importante papel no Golpe que deu início à Ditadura Civil-Militar que durou até 1985. Da mesma forma, outras ditaduras foram sendo implantadas ao longo do continente: Argentina (1976 a 1983), Chile (1973 a 1990) e Uruguai (1973 a 1985). Todos esses golpes e suas subsequentes ditaduras tiveram o apoio direto ou indireto dos Estados.  

No Brasil, por exemplo, os norte-americanos já tinham planos de apoiar logistica e diretamente os golpistas, caso houvesse resistência por parte de João Goulart e seus apoiadores. Intervenção que não ocorreu, mas que balizou os eventos levados a cabo pelos militares brasileiros, com apoio de amplos setores da sociedade civil. No caso chileno, o golpe ganhou contornos mais dramáticos, com enfrentamentos, bombardeamento do Palacio de La Moneda e o assassinato do então presidente Salvador Allende.

Cenas do golpe no Chile

Nesse ponto, antes de continuar, devo explicar a situação desses países e então perguntar: o que culminou nessas ditaduras? 

Alguns países latino-americanos, como o Brasil, vinham experimentando grandes desenvolvimentos econômicos, buscando uma relativa auto-suficiência. Os anos 1940 e, especialmente, os 1950, foram de amplo crescimento e industrialização para os países acima citados. Passou-se por processo de substituição de importações (produzindo muitas coisas que antes se comprava fora) e nos anos 1950 avançou-se no sentido da produção de bens de produção (máquinas, equipamentos e suplementos).

Isso representava muito no caminho de se constituirem economias relativamente autonomas, ou menos dependentes em relação às importações, que sempre foram fatores de endividamento e dependência em relação ao mercado externo, especialmente dos Estados Unidos, a grande economia do pós-Segunda Guerra. Isso, por si só nos leva a refletir, o papel dos norte-americanos e seus interesses na América Latina (chamado por alguns de o "quintal norte-americano").

O dia do golpe na Argentina

Além disso, vivia-se a Guerra Fria, onde os norte-americanos bipolarizavam o mundo com os soviéticos. Nesse sentido é que a Revolução Cubana de 1959 e a ligação de Fidel Castro e seus camaradas à União Soviética, acenderam o alarme dos norte-americanos. Seus chefes militares e políticos, muitos já pirados pelo embate Capitalismo-Comunismo, logo viram ameaças por toda parte que restava da América Central e do Sul. É justamente nesse sentido, que promoveram ações de espionagem, treinaram militares que se tornariam golpistas e mesmo deram cursos para futuros torturadores. Além disso, fomentaram e financiaram campanhas de políticos aliados (especialmente ultra-direitistas) e ajudaram a criar instituições no Brasil, na Argentina, no Chile e por aí vai... 

Somaram-se a isso má vontade dos norte-americanos em acordos econômicos que não estivessem de acordo com sua vontade e interesses e o pouco caso com os problemas sociais que se tornariam críticos nos anos 1960.

A ditadura no Uruguai

Essa década veria então os mesmos países, que nos anos 1950 vinham crescendo de forma admirável, se afundarem em crises econômicas (com inflações galopantes, desemprego, insucesso de políticas de governos, etc..), sociais (movimentos por direitos, pobreza, desigualdades crescentes, enfrentamentos...) e políticas (polarizações e radicalizações). Como uma onda a mostrar que a busca da independência e soberania nacional tem limites, os países latino-americanos foram vendo seus governos se tornarem questionados (em grande parte de forma injusta) e parte da sociedade a se movimentar para derrubá-los.

Agindo às claras ou de forma oculta, os Estados Unidos foram ajudando a minar governos e, finalmente, marcaram posição favorável aos golpes. Golpes que instalaram ditaduras sanguinárias, opressivas e manipuladoras. 

O Brasil dos militares

Voltamos então à pergunta: seriam possíveis esses golpes e a vida desses regimes autoritários sem o apoio dos Estados Unidos? Seria coincidência as ditaduras terminarem nos anos 1980-1990, quando a Guerra Fria (pelo menos a que ocorreu entre Estados Unidos e URSS) já mostrava sinais de seu fim, com novo momento de "vitória" do capitalismo e dos norte-americanos?

Claro que isso pode ser muito melhor estudado e as respostas poderiam ser muito mais profundas. Mas, me parece clara a relação dessas ditaduras com a vontade dos americanos, embora não só isso evidentemente - os grupos políticos nacionais foram os autores, afinal, dos golpes e manutenção de seus regimes. Mas, a sua instalação e sobrevivência por longo tempo (no Brasil foram 21 anos!), parecem claramente relacionadas a nova situação de dependência em relação ao que acontecia no resto do mundo. Não é atoa que a "abertura" política tanto para brasileiros, quanto para argentinos e uruguaios (os chilenos terminariam sua ditadura em 1990) se veria conectada à afirmação de forma intensa do neo-liberalismo

Então, eu terminaria este post perguntando de forma breve: seria possível haver novos golpes e regimes autoritários no momento atual, especialmente no Brasil? Eu tendo a pensar que pode haver sim golpe (como já vem ameaçando o atual presidente), mas que dificilmente perduria um governo autoritário resultante desse movimento. E por que penso assim? A resposta exigiria um novo e longo texto, que posso fazer futuramente, mas, de forma breve, pensemos o seguinte: que a situação interna, mas sobretudo a internacional, não favorece tais pretensões.

Se fosse num cenário em que houvesse novo Governo Trump, talvez isso fosse mais provável. Afinal, a onda conservadora teve muito de seu apoio como presidente de uma das maiores potências atuais. Mas, o cenário mudou com a eleição de Joe Biden, que tem uma visão bem diferente sobre regimes autoritários. Os Estados Unidos e outros tantos países de destaque no mundo já sinalizaram negativamente para a possibilidade de golpes/regimes autoritários. Países que se aventurassem nesse caminho provavelmente sofreriam fortes embargos políticos e econômicos; poderiam se ver isolados (total ou parcialmente, como tem acontecido com a Rússia em guerra). 

Portanto, a situação atual nos leva a crer que muita coisa mudou desde os anos de Guerra Fria. Muita coisa mudou pra melhor, embora, claro, não devamos descartar movimentos trasloucados e tentativas de afirmação política fora da democracia. Por isso, vale o trecho da música cantada por Gal Costa em tempos de ditadura no Brasil: "é preciso estar atento e forte"!

  

Aproveite e veja nosso vídeo sobre o Golpe de 1964 e a participação dos Estados Unidos!

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