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Segregação racial e violência nos Estados Unidos | José A. Fernandes



Pensar a condição dos negros americanos do século XIX em diante é aterrorizante. Ações supremacistas, ações da Ku Klux Klan, leis segregacionistas, perseguições e assassinatos. Esse é o tema dessa postagem, com imagens explícitas (atenção).


Quando você tirar um tempo da sua vida para entender preconceito e ações violentas motivadas por ele, parece um pouco para pensar no que aconteceu nos Estados Unidos desde o século XIX. Independente das suas visões anti-imperialistas (contra os Estados Unidos), é interessante pensar o país como algo múltiplo e, nesse sentido, dar atenção a condição do negro no país, especialmente após a Guerra Civil.

A escravidão teve papel fundamental na guerra (que aconteceu entre 1861 e 1865) e seus desdobramentos. E quando ela terminou a escravidão também foi extinta. Mas, as feridas não foram fechadas e a situação dos ex-escravos passou por duas visões principais: os que defendiam sua integração e igualdade da população afro-americana em relação à população branca e os que procuraram manter a separação (segregação) a todo custo

Os segregacionistas - especialmente do Sul, mas também do Norte do país - procuraram se "defender", criando leis racistas e discriminatórias da segunda metade do século XIX em diante, que foram com o tempo denominadas "Leis Jim Crow". Essas leis passaram a definir o lugar, as atitudes possíveis e as formas de relação dos negros com os brancos. 

Através dessas leis, o negro era separado física, cultural e socialmente dos brancos. Tinham lugar diferente nas cidades e nos transportes, usavam espaços públicos e privados diferentes, tinham banheiros exclusivos... Havia escolas para brancos (em geral melhores e menos lotadas) e escolas para negros (em geral na periferia, com menos recursos e mais sucateadas). E os negros norte-americanos deviam seguir isso a risca ou pagar o preço, legalmente, fosse através de prisões, multas ou processos inconvenientes. 

Mas isso era a parte legal da coisa; havia ainda a parte "extra-legal".


O pacto da branquitude
Cida Bento
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As ações contra a "desobediência" negra podiam assumir outras formas não necessariamente contidas nas leis, mas amplamente aceitas pela população branca - ao menos a parte racista, claro! Nesse contexto é que entravam as ações mais brutais e horripilantes, a começar por espancamentos, seguindo perseguições diversas, até terminar em linchamentos. Muitos negros eram julgados de forma sumária, sem uso das leis; ou seja, os brancos faziam "justiça com as próprias mãos" de acordo com o que entendiam como justiça.

Acontece que essas ações de "justiça" era feitas a partir do ponto de vista dos brancos e os "crimes" podiam ir desde desobediências simples, até acusações falsas de assassinatos, cujos bodes expiatórios eram os negros. Podia-se acusar um negro, por exemplo, de perseguir mulheres brancas, de assediá-las; a coisa ficava pior quando ocorriam estupros ou assassinatos, cujos autores apontados eram negros - sem qualquer prova disso!

Desobedecer essas leis feitas por brancos custava surras, custava prisões, custava não raras vezes a morte. Ser negro "rebelde" era perigoso, assim como ser branco e defender a causa dos negros também! Os negros eram isolados, tinham que respeitar a lei, não tinham a quem recorrer ou pedir socorro; não tinham representantes políticos ou legais negros; afinal, eles nem podiam votar em sua esmagadora maioria, quanto mais se candidatar com chances de vencer; assim como tinham limitados acessos aos cargos que envolviam a o uso e julgamento da lei.

Para garantir a "ordem", estabelecida pelos que detinham o poder, havia a polícia (que em muitas cidades do Sul proibiam a contratação de polícias negros, quanto mais xerifes negros!), assim como havia toda uma estrutura legal e política. Mas, para além disso, havia a ação de grupos secretos (ou nem tanto), a exemplo máximo da Ku Klux Klan. Esse era grupo supremacista, violento, que via os negros como inferiores e mesmo como um mau que precisava ser isolado, controlado e castigado.

A KKK em ato de "queima de cruz", em geral ameaça a negros religiosos rebeldes

A Ku Klux Klan era composta por religiosos (de igrejas de brancos, claro!), de "gente de bem", de sujeitos "cheios de si", que se achavam no direito de punir negros que se negasse a seguir a separação racial/social estabelecida. Perseguiam, impunhavam terror, promoviam destruição em espaços e igrejas dirigidas e frequentadas por negros - ataques a bomba eram frequentes. Se alguém fosse "julgado" pela comunidade branca, a KKK entrava em ação, com ações punitivas diversas, queimando cruzes de "aviso", seguindo por perseguições, que incluiam jogar ácido em piscinas frequentadas por negros, ou promovendo surras ou linchamentos públicos.

Linchamento de Jesse Washington, em maio de 1916, em Waco, Texas, com um sorridente espactador branco ao fundo

Assassinato de um negro em 1882

Linchamento de Thomas Shipp e Abram Smith, que foi tirado a força da prisão em que estavam por um grupo raivoso, que bateram-lhes e enforcaram em Marion, Indiana, em 1930


Imagem de um linchamento, de cerca de 1920


Assassinatos (e demais ações supremacistas) seguiram ao longo do século XX. O mais famoso deles, o de Martin Luther King, líder do movimento negro pelos direitos civis e políticos (veja seu último discurso no vídeo abaixo), ocorrido em Memphis, em 1968. O que não impediu o movimento negro por direitos políticos e sociais de seguir adiante.

Mudanças profundas na legislação e mesmo na mentalidade de muita gente branca só viriam com muita luta dos negros; mudanças fundamentais viriam em meados dos anos 1960, durantes os governos Kennedy e Lyndon Johnson. Só a partir daí foram se tornando ilegais atos de segregação e discriminação.


Martin Luther King em seu discurso "Eu tenho um sonho", na Marcha Sobre Washington de agosto de 1963

Ainda assim, a luta não acabaria, continuando as perseguições, o racismo e as ações violentas contra os negros de forma ilegal e mesmo incoberta. Exemplo bem humorado, mas sintomático disso, é a série de TV Todo Mundo Odeia o Chris, ambientado nos anos 1980 e baseado na vida de Chris Rock na cidade Nova Iorque. Mas, além disso e de forma nada engraçada, o movimento supremacista branco sobreviveu e mesmo ganhou força nos últimos anos, especialmente no governo de Donald Trumpo; para se ter uma ideia, a Ku Klux Klan ainda segue agindo mais ou menos às escondidas em plenos anos 2020. 

Membros da Ku Klux Klan atualmente

A luta dos negros nos Estados Unidos segue intensa no século XXI, buscando derrubar barreiras e preconceitos; construir um novo caminho, rompendo o racismo estrutural imperante; buscando inclusão, igualdade política, a busca por direito de expressão, o reconhecimento do seu lugar de fala e sua visibilidade. O que inclui enfoques sobre inúmeras situações até pouco tempo encobertadas, tais como a da mulher negra ou da minoria negra LGBTQI+. 

Assista ao último discurso de Martin Luther King!

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