Ailton Krenak, primeiro índigena da Academia Brasileira de Letras

Ailton Krenak, que é uma das grandes lideranças indígenas do Brasil, agora se tornou o primeiro membro índigena da ABL.

Quem acha que lugar de índigena é na floresta, andando nu, caçando e pescando, deve estar horrorizado com a novidade. Uma liderança indígena como imortal da Academia Brasileira de Letras é algo inédito e significa muito em termos de representatividade.

O histórico de lutas de Ailton Krenak é longo, surgido em tempos em que muitos se espantavam com as "descobertas" dos indigenistas, que provavam que os povos originários não estavam em estinção como se pensava até os anos 1960 e 1970. Nascido no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, ele se percebeu índio depois de muitas fugas com o pai, depois de perseguições e deslocamentos forçados. Ao perceber-se, viu que precisava fazer algo, como outras lideranças começavam a fazer, para defender os direitos indígenas, o direito à terra especialmente, e também defender a natureza.

Passou a ser ele um defensor ferrenho da preservação ambiental e da importância de se cuidar do meio ambiente. Isso vai ficando claro em suas ações, mas também em seus escritos, já que ele publicou diversos livros. Nesses livros ele vai procurando mostrar que sem natureza não há humanidade e que os índios são parte dela, como são parte todos os que a destróem.

Mas não é porque o indígena é parte da humanidade que ele precisa ser como os "brancos", abandonar a floresta. Por isso ele defende o respeito ao isolamento de povos que assim optaram, por não fazer sentido imaginar que todos devam ser tirados dos seus espaços e submetidos à sociedade envolvente, só para serem chamados de "brasileiros".

Dentre os diversos livros de Ailton Krenak, temos Ideias para adiar o fim do mundo, no qual aborda questões relacionadas ao meio ambiente, à cultura indígena e à responsabilidade coletiva na construção de um mundo mais sustentável. Onde faz críticas ao capitalismo, à gana por sempre extrair mais e mais da natureza e a despreocupação com a preservação. A busca por tirar sempre da natura que tem limites, com a ideia de que o crescimento econômico e o enriquecimento capitalista é ilimitado.

A busca pelo lucro e a ideia urbana de propriedade, segundo ele, é que levou e leva os "brancos" a invadirem as terras indígenas, expulsá-los de seus territórios ou simplesmente exterminá-los. Tudo isso ao mesmo tempo em que se destrói a floresta, para extrair riquezas, construir cidades, construir barragens ou usinas. Quem sai perdendo em grande medida são os indígenas, assim como outros ocupantes e usufrutuários, não proprietários, a exemplo dos seringueiros e ribeirinhos. 

Ailton Krenak, merecidamente, foi eleito para a cadeira n. 5 da Academia Brasileira de Letras, que antes pertencia ao saudoso José Murilo de Carvalho, falecido recentemente. Eleição que se deu por sua longa contribuição para a defesa e promoção da cultura indígena, parte fundamental na formação brasileira. Por sua defesa da natureza, inserida em todos os seus escritos, sejam memórias, textos avulsos ou poemas. Mas também por sua contribuição na valorização da oralidade, por muito tempo tão renegada por quem valorizava a cultura escrita, tida como civilizada.

O futuro só vai existir se respeitarmos o que é ancestral

Além do livro que eu citei acima, fazem parte da sua obra os livros A vida não é útil (2020), Futuro ancestral (2022), O amanhã não está à venda (ebook gratuito para Kindle) e Lugares de Origem (2021), escrito junto com Yussef Campos. Temos ainda Encontros: Ailton Krenak, coleção de entrevistas e depoimentos dados por ele em vários lugares do Brasil e do mundo.

Se quiser ver entrevistas e depoimentos dados por ele, o Youtube tem várias, só clicar aqui.

E você, o que achou da eleição de Ailton Krenak para a ABL? Deixe seu comentário.

Aproveite para ver o vídeo sobre os indígenas do Brasil e da América!

Se estiver recebendo no e-mail e não conseguir ver o vídeo, clique aqui.

Ideias para adiar o fim do mundo

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