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A vida era boa na Idade Média?

 

Nós aprendemos uma meia dúzia de coisas sobre a Idade Média na escola, cavaleiros, feudalismo, igreja, Peste Negra... Por isso, de forma acessível, quero falar um pouco mais sobre a vida de nobres e servos, com seus problemas de higiene, saneamento, alimentação e limitações técnicas. Então clique nesse post e confira!


Quando a gente olha o passado, a gente tem que evitar uma coisa chamada anacronismo, que é olhar com os olhos do presente e as espectativas que a gente tem atualmente. Se fizermos isso, muita coisa vai influenciar, a começar pelo que não existia naquela época. 
A gente começaria a pensar que não tinha celular, internet, computadores e celulares, redes sociais... muita gente já teria um chilique (especialmente aqueles que são comprovadamente dependentes dos dispositivos atuais). Então, pra pensarmos a vida na Idade Média, precisamos olhar com os olhos da época, ou pelo menos o máximo que nós conseguirmos.
Ainda assim, podemos fazer alguns comparativos, claro, com o presente. Começando pela higiene. Durante todo período que chamamos de Idade Média, não havia saneamento básico. As formas de fazer as necessidades eram adaptadas pelos recursos que se tinha. Se fosse um camponês, desenvolveria uma fossa (parecida com a que ainda existe por aí, embora bem menos que décadas atrás). Mas, não era incomum lançar os dejetos em espaços próximos das casas (no mato, por exemplo). 
O que ganhava alguma engenhosidade quando fossem nobres e tivessem castelos ou fortalezas. Nesse caso, poderia ser construído um banheiro em alguma torre, por exemplo, com um orifício mirado para o exterior. Segundo se sabe, o primeiro vaso sanitário criado na história só seria inventado já no início do que a gente chama de Idade Moderna, pelo poeta (que ironia!) inglês John Harington, em 1596. Mas, nos castelos e fortalezas o cocô era lançado por um orificio aberto mesmo, no alto do "banheiro", diretamente no fosso que os circundava. Agora, imagine você um exército inimigo tentando invadir o recinto e cair nesse fosso!
Uma latrina vista do alto
Na Idade Média também não existia água encanada - pelo menos não como a gente tem hoje. Muita gente dependia de poços, em geral de uso coletivo. O que poderia ser um grande problema em caso de contaminação da água, coisa que, aliás, acontecia muito, ajudando a espalhar epidemias e a morte de muitas pessoas do vilarejo, da fortaleza ou do burgo (quando esses foram surgindo). 
Os romanos já construiam diques e canais para abastecimento de água (assim como os egípcios e outros povos antes deles), mas os sistemas de abastecimento mais amplos, com encanação e distribuição de maior alcance, como a gente conhece hoje, só se tornariam mais presentes já a partir da segunda metade do século XIX, ainda assim nas cidades maiores primeiro. Por exemplo, no caso do Brasil, o governo de São Paulo construiu o seu primeiro sistema de abastecimento de água encanada entre 1857 e 1877. Em Porto Alegre e no Rio de Janeiro o abastecimento de água encanada se deu em 1861 e 1876, respectivamente.
Dentre outros motivos, é por isso que as bebidas alternativas eram tão estimadas na Idade Média. Inclusive sendo estudadas e desenvolvidas em mosteiros, que até hoje são produtores de vinhos e cervejas muito famosos. É o caso da cervejaria Weihenstephan Brewery, que é a mais antiga ainda em funcionamento. Ela foi fundada em 1040, na Baviera, onde hoje é a Alemanha, por monges beneditinos. Mas, uma bebida que era muito disseminada na Idade Média era o hidromel, até hoje fabricado de forma artesanal em vários lugares do mundo.
Um monge apreciando sua obra
Em relação à alimentação, a coisa poderia variar, mudando o tipo de alimentação de acordo com o estamento da pessoa ou grupo. Se fosse nobre ou mesmo fizesse parte da corte de algum rei ou senhor feudal mais rico, a alimentação poderia ser mais farta, com presença de carnes em maior quantidade e com mais frequência. Aliás, esbanjar no caso da nobre e dos senhorias era uma regra, que simbolizava poder e riqueza em uma época em que o domínio da terra e das pessoas era mais importante do que o acúmulo de dinheiro ou até mesmo tesouros.
Agora, no caso do camponês, a alimentação era mais pobre. O que poderia ficar ainda pior se houvesse má colheita ou guerra. Nesses momentos ruins, o nobre não abria mão de sua alimentação, deixando aos seus servos e vassalos o onus maior. Especialmente para os servos que tinham as maiores obrigações para com seus senhores, seja em forma de serviços prestados ou de pagamento em natura - a exemplo das talhas, corveis e banalidades.
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O que é curioso é que nos séculos da Idade Média não havia refrigeração - exceto em poucos casos e formas improvisadas, ou ainda quando se morasse em regiões bem mais frias. É por isso que os germânicos ainda hoje tem costume de tomar cerveja e chopp em temperatura "ambiente". É por isso também que não era incomum os europeus comerem comida estragada, o que era até mesmo apreciado em alguns casos. Isso explica a popularidade das especiarias, vendidas por altos preços nos mercados europeus, para disfarçar o gosto ou preservar alguns alimentos. Exemplo do cravo, da canela, da nóz moscada, da pimenta do reino...
Um médico em tempos de Peste Negra
A medicina era literalmente medieval! Se é que podemos chamar de medicina, ela era uma massaroca de ideias existentes desde a antiguidade (dos gregos especialmente), de influências espirituais (especialmente o catolicismo, mas não só) e aquilo que o antropólogo Claude Lévi-Strauss identificou como "complexo xamanístico" e "consenso social." Só pra ficarmos num exemplo, quando a Peste Negra bateu sobre a Europa, os padres e "médicos" desaconselhavam o banho, que poderia ajudar a espalhar a coisa toda. Isso porque banho não era coisa rotineira para os europeus - só lembrar o quanto os espanhóis e portugueses estranharam a prática indígena de se banhar constantemente; ou ainda a tradição francesa de produzir os melhores perfumes.
Em alguns lugares, tomar banho era coisa só para dia santo e em ocasiões muito especiais. Daí não ser incomum tomar apenas dois banhos POR ANO - no resto do ano apenas dando uma "lavada" nas partes íntimas quando necessário. Só muito tempo depois, já na Idade Moderna, é que o banho seria visto como importante na higiene pessoal, ainda assim com as ressalvas de alguns países europeus, como os franceses que já mencionei.
Uma vila medieval
Embora seja difícil generalizar, os castelos e muralhas era muito mal ventilados, o que se somava à umidade que ajudava a multiplicar fungos e bacterias. Coisa desconhecida dos medievais, que tinha ideias ainda muito rudimentares sobre os microorganismos. 
Se não havia água encanada, a higiene pessoal ou coletiva era precária e a alimentação deficiente, tente imaginar uma cidade medieval ou ainda pior uma vilazinha. Claro que temos que lembrar que não é nosso papel julgar, ainda mais com os olhos do presente, mas, não é difícil imaginar os motivos de a espectativa de vida ser tão baixa, sendo em média de 30 a 35 anos, tanto para nobres como para campeneses.  
Uma fortificação
Enfim, muitas outras coisas poderiam ser ditas sobre a vida na Idade Média e em qualidade de vida naquela época, podendo haver fortes variações dependendo da região ou do feudo. Isso porque o poder estava pulverizado, não havendo poder centralizado e sim inúmeros feudos e domínios. De qualquer forma, já dá pra ter uma ideia de que a vida não era nada saudável e imagino que nada fácil, seja para nobres e sobretudo para plebeus. 

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