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O neoliberalismo e sua sociedade do cansaço

  


A sociedade atual é uma sociedade do cansaço, sem dúvida. Somos submetidos de forma constante ao esforço sem limites, sempre com o objetivo de obter o melhor desempenho. Somos desafiados a ir além do possível, nos esforçarmos sempre mais e mais. "Não há limites para o que você pode fazer", diriam os gurus e couchs atuais. "Você é capaz de tudo". 

O filósofo Byung-Chul Han tem uma série de livros tratando sobre a condição humana, sobre o mundo do trabalho, sobre tecnologia. Num deles, que tem justamente o título de Sociedade do Cansaço, ele examina o cansaço da época atual, aonde há um excesso de positividade, assim como a multiplicação de doenças neuronais disso resultado, tais como depressão e bornout.

O que ele faz é nos convidar a analisar a questão da sociedade neoliberal, que cobra cada vez mais do indíviduo, no singular. Desprovido de sentido de grupo, comunidade ou coletividade. Embora (como quase nada), isso seja absoluto, sabemos que vivemos num mundo individualista, onde o privado é valorizado, a propriedade endeusada, o possuir um objetivo magno. 

Daí haver uma cobrança constante, que não aceita falhas, cuja culpa é do próprio indivíduo, que se falha é porque não se esforça o suficiente. Não pode reclamar do sistema, porque a peça mais importante, que é ele mesmo, como parceiro ou colaborador, está falhando, não está contribuindo o suficiente para o funcionamento, por isso não recebe os lucros distribuidos, os benefícios "concedidos", as regalias expostas em vitrines idealizadas do "crescimento na carreira" ou o prazer do sucesso no fim da jornada.

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han

A cobrança atualmente, como mostra Byung-Chul Han, é terceirizada. Ela é delegada ao próprio sujeito que se autovigia, se autopune. Daí o aparecimento de doenças como depressão e burnout. Multiplicadas por sentimentos de vazio, de falta de sentido na vida, de crises existenciais. Os remédios são oferecidos aos montes, mas servem apenas como paliativos em uma sociedade em que a cura não existe e aonde o ser procura fugir da realidade que o assusta e dos problemas que não pretende enfrentar.

Num mundo de produção virtual, de inteligências artificiais dominantes, o ser físico vira apenas mais uma peça. Que pode ser reposta como algo substituível em uma engrenagem gigantesca e complexa, num capitalismo tão transformado e constantemente mutável que fica difícil definir e mesmo combater. 

Um capitalismo que seduz, que ilude, que cansa!

Desde algumas décadas que multiplicaram-se as pequenas causas, separadas umas das outras. Causas importantes, sem dúvidas, mas que por vezes ficaram esmigalhadas em bolhas que não se tocam ou se tocam apenas ocasionalmente. Desde o "fim da história e das ideologias" que se deu com a destruição da União Soviética e do Socialismo, as grandes causas perderam o encanto, deixando um rastro de desilusão.

É preciso que alimentemos os diálogos, que busquemos conversar os grupos entre si. Para que os conflitos de interesse entre as causas pulverizadas sejam dirimidos e possamos encontrar pontos em comum. Nos últimos anos vimos a ascensão da extrema direita, o que faz necessário (e temos visto tentativas nesse sentido, no Brasil e no mundo) o diálogo, o debate sério e comprometido com as causas sociais, para que voltemos a pensar nas grandes causas do mundo.

Daí eu discordar de Byung-Chul Han: as grandes causas não morreram, ou se morreram precisam reviver. 

Grandes causas que envolvem sem dúvida, questões raciais, de gênero; as mudanças climáticas; as desigualdades sociais, políticas e econômicas. Além da necessidade de vencermos o individualismo neoliberal, agindo com as ferramentas atuais, afim de vencer suas seduções e sermos atraentes, gerando interesse pelo "bem comum", pela vida mais coletiva e menos individual.

Quem sabe assim, no final, vivamos menos cansados e nos cobremos menos. 

Veja também a resenha que fiz sobre o livro Sociedade do Cansaço!


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