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Indústrias no Brasil Colônia | por José A. Fernandes


Rugendas
 
Sabemos que o Brasil, há tempos atrás, era apenas um grande exportador de matérias primas, tendo passado por alguns ciclos ao longo de sua história econômica. Disso não saiu por uma série de entraves, que só bem tarde foram sendo superados. Ainda assim, com muitas permanências e retrocessos.

Desde que começou a figurar entre os europeus, o que passou a se chamar "Brasil" vem vivendo momentos em que os produtos exportados se sucedem em importância. Viveu nosso país do que era mandado pra fora, comprando o que lhe era oferecido pela Metrópole. Dentre os produtos da terra exportáveis temos de início o pau-brasil, seguimos com grandes exportações de cana de açúcar, fumo, cachaça, algodão e café (com mais conhecido destaque no século XIX para esse fruto da rubiácea) - ganhamos também visibilidade com a grande exportação de ouro de Mato Grosso e, sobretudo, das Minas Gerais.

Assim, tomando o que nos diz Roberto Simonsen, um autor muito conhecido entre os historiadores econômicos, em seu História Econômica do Brasil, vemos que "na era colonial, afora os estaleiros navais, que os houve, importantes e produtivos, e os engenhos, rara foi a indústria instalada no país". E não era mesmo interesse que por essas bandas houvesse produções que pudesse concorrer com o que os portugueses traziam. 


Debret
Escravos carpinteiros. Gravura de Jean Baptiste Debret.

Os governantes portugueses proibiam tudo que pudesse significar concorrência. No século XVIII foram os ourives, "para evitar o contrabando do ouro ou a exportação das moedas". Depois foi a vez das indústrias e fábricas do país, proibidas por um decreto de 1785 da rainha D. Maria (a mesma que viria a ser conhecida pela alcunha de A louca). 

Claro que também, nesse caso das indústrias, a ideia era a de não distrair os braços da lavoura, assim como assegurar uma diferenciação na produção entre a Metrópole Portugal e a Colônia Brasil. O que queriam os governantes portugueses era garantir que seus produtos industriais tivessem mercado por aqui. Era o Brasil um mero produtor do que chamaríamos hoje de commodities, uma colônia exportadora de produtos agrícolas e riquezas. 


ouro
Barras de ouro do Brasil Colônia

Durante todo período colonial, nossos índios e negros (sobretudo o segundo grupo) serviram como mão de obra para grandes produções, enquanto os nossos "empresários" se preocupavam com a organização, controle ou em agir como intermediários entre o que era produzido e a venda aos compradores e companhias de comércio.

A situação do Brasil só começaria a mudar a partir do século XIX, com a vinda da família real para o Brasil. Ainda assim timidamente, como podemos ver depois com a sobrevivência do sistema monocultor e a predominância dos produtos primários para exportação em relação ao consumo interno. Assim também como a mão de obra, tendo persistido a escravidão até 1888 - o Brasil foi o último país nas Américas a abolir o trabalho escravo. Ainda que já começassem a aparecer os trabalhadores europeus, movimento que ganharia impulso especialmente a partir da década de 1870.

Neste mesmo século XIX e começo do XX, o produto da vez viria a ser o café, que aliás teria papel importante na criação de indústrias no Sudeste brasileiro. Em síntese, a situação brasileira de país agrário exportador, como bem mostraria Caio Prado Jr, entre outros, no livro História Econômica do Brasil, perpassaria o nosso momento como Império independente, sobreviveria ao advento da república e às primeiras décadas do século XX. 

Especialmente com o crescimento da importância do café, haveria aos poucos um investimento em algumas indústrias que se tornariam importantes, especialmente de tecidos. Assim como também o beneficiamento de produtos agrícolas e de extração vegetal (erva-mate, borracha) e mineral. Mas, segundo Celso Furtado, as mudanças fundamentais na orientação econômica brasileira só viriam mesmo com os grandes eventos do século XX, especialmente a Crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial. A partir daí que teríamos o que se chamou de "substituição de importações" e um impulso ímpar do processo de industrialização nacional.

  Rugendas
Moenda de cana. Gravura de Jean Baptiste Debret.

O fato é que, enquanto estivemos dominados pelos portugueses, não houve condições para o desenvolvimento de uma industrialização nacional. Claro que, mesmo "libertos" de Portugal, o entrave viria depois da Inglaterra, embora em outras condições. Assim como também, orbitaríamos em torno dos Estados Unidos depois da Segunda Guerra - e antes dessa até tenhamos nos aproximado da Alemanha. As heranças coloniais, de qualquer forma, seriam decisivas para manter a estrutura patriarcal brasileira, a "mentalidade agrária" e tudo que com isso vem acompanhado. Coisas que, aliás, vemos se manifestar frequentemente na atualidade.

Veja o primeiro vídeo da nossa séria os historiadores brasileiros!
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Referências:


Roberto Simonsen - História Econômica do Brasil. 6 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969.

Caio Prado Jr. - História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2012.

Celso Furtado - Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

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* Originalmente postado em 17 de novembro de 2012.

** Imagem do topo: Moenda de cana. Gravura de Johann Moritz Rugendas.


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8 Comentários

  1. Olá. Parece-me que há um equivoco conquanto à autoria da gravura da moenda de cana-de-açúcar. A aquarela é de Jean Baptiste Debret. Posso estar enganado, mas aconselharia uma pesquisa. Saudações.

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  2. Desde o início, os sistemas foram criados para serem capazes de fabricar e produzir produtos em massa, é realmente um sistema muito útil para o avanço da sociedade.

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    1. Sistemas fabris que surgem apenas com a Revolução industrial e ainda assim, a princípio (séc. XVIII), apenas na Inglaterra

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  3. obrigado pelo conteúdo , foi de grande ajuda !

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