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A Idade Média e as mulheres

 


A Idade Média, segundo o historiador Georges Duby, foi a "idade dos homens", daí ser a ideia desse texto mostrar como era a presença das mulheres.


Para escrever esse texto, usei os livros de Georges Duby, que tem uma série de obras sobre a Idade Média, sendo alguns deles dedicados aos papeis que eram legados à mulher e ao feminino. Esse deixa claro de início que a Idade Média é uma "idade dos homens".
Afinal de contas, foram os homens que deixaram os registros escritos que serviram como testemunho do período. São eles os poetas, clérigos ou leigos; são os cronistas, os "historiadores", os biógrafos das figuras célebres e os hagiógrafos (biógrafos dos santos católicos).
Dos homens emana o conhecimento, seja religioso ou não. Sâo eles as "autoridades" que discutem as regras sociais, que decidem os dogmas da igreja, que definem, inspirados pelo divido, quem é ou não santo. Inclusive que mulher será condenada como bruxa ou qual se tornará santa. A partir da escrita dos homens, as santas são celebradas por sua vida de acordo com as regras e pelos exemplos que podem dar da moral cristã estabelecida.
Às mulheres da Idade Média, restam em geral as sombras. Elas são colocadas à margem, como peças acessárias de seus maridos ou como indignas pagãs condenáveis por suas ações luxuriosas ou seus atos místicos. As mulheres não tinham voz, seja em casa, muito menos fora dela. Boa mulher devia ser recatada, do lar, boa esposa, parideira, dar bons filhos, de preferência homens que continuassem a linhagem familiar, se fossem nobres. 
Se fosse da nobreza, a mulher devia aceitar o que fosse decidido por seus pais (ou melhor, seu pai). Para ela o pai escolhia o marido, estabelecia o dote (dos), entrava em acordo diretamente com o pai do marido escolhido sobre os detalhes do matrimônio. 
Casar na Idade Média não envolvia o que hoje conhecemos como amor. O marido, em geral, tinha afeição pela mulher, essa devia ao marido respeito. Onde não existia essas coisas se dizia que estavam mal-casados.
Do povo mais comum, do populacho, pouco se sabe. Deles se fala indiretamente nas crônicas ou registros oficiais. Mas eram mais numerosos por certo, tinham mais filhos, inclusive para servir de mão de obra doméstica. 
O papel ditado pela distribuição dos estamentos era (quase) intransponível, não devendo haver casamento entre nobres e plebeus. Plebeus (homens e mulheres) que não tinham "sangue azul" como os nobres, não tinham linhagem, não eram distintos
As mulheres do povo deviam ter uma vida menos regrada (no sentido de não serem postas diante de tantas formalidades e rituais), mas também estavam sobre os olhos da igreja, eram alvo de suas predicações. Elas também eram exortadas a evitar os pecados da carne, a usar o sexo apenas para procriação e evitarem os prazeres carnais.
Uma diferença é que os casamentos populares, como se costumava dizer, não eram realizados "por interesses". Claro que isso é difícil de determinar com precisão, mas talvez houvesse mais espaço para o sentimento.
Mas, seja da nobreza ou do povo, a mulher se via diante de uma sociedade de homens
Homens que iam para guerra, que faziam política, que decidiam os rumos dos domínios. Homens que disputavam inclusive a posse de mulheres, a exemplo dos torneios (justas) em que se degladiavam pela mulher de um senhor ou nobre. Cavaleiros que (se não fossem de alguma ordem religiosa, como os Templários, por exemplo) podiam viver sua juventude (na época a fase anterior ao casamento, independente da idade do homem), experimentar os prazeres da carne (mesmo que oficialmente proibidos pela igreja). 
As mulheres, por sua vez, deviam preservar, por questão de honra pessoal e familiar, sua vingindade, a espera do momento que seria desflorada pelo marido arranjado, seu "bom partido", seu "prometido". Marido que geralmente ela só conhecia na noite do casamento e com o qual era obrigada a viver, sob o risco de ser condenada pela sociedade e pela igreja. 
Ou então, para algumas, a saída era se internar em mosteiros, onde viveria uma vida de devoção, de autoprivação. Mosteiros que muitas vezes eram construídos com o dinheiro do dote delas, usado para isso pela mulher com a permissão do filho mais velho (se viúva) ou do pai se por algum motivo fosse acolhida temporariamente por ele, antes de rumar à reclusão. 
Outra exceção ainda era daquelas que optasse por não casar, ainda mais uma vez buscando refúgio na religião. Deveriam nesses casos manter a pureza, ou seja continuarem virgens. Em geral não era coisa de mulher ir pra guerra, tornando ainda mais interessante o exemplo de Joana D'Arc, que viveu nos limites entre a Idade Média e a Moderna. Ela não se casou, manteve a virgindade e ainda se tornou um baluarte do exército francês - pelo menos até ser traída pelo próprio rei da França, ser condenada por heresias e ser queimada na fogueira.
livro que fala sobre Joana D'Arc
Mas, as mulheres que não escapava a esse "destino", muitas vezes casavam ainda na adolescência, podendo ser com homens igualmente muito novos ou com velhotes nobres que as conquistavam de seus pais. Sempre procurando se manter a linhagem, não sendo incomum o casamento endogâmico, feito entre os próprios parentes, fossem primos ou até mesmo tios. Até que aumento a proibição por parte da igreja, procurando combater o incesto.
Claro que não podemos olhar o passado da Idade Média com os olhos de hoje. Mas, certamente muitas coisas nos saltam os olhos, seja nas grandes diferenças notadas ou nas permanências escancaradas. O certo, ainda que haja muito por ser estudado, que esse era o mundo legado às mulheres da Idade Média.
Para conhecer melhor isso, eu super recomendo os livros do historiador Georges Duby, especialmente O cavaleiro, a mulher e o padreIdade média idade dos homensAs damas do século XII. Somado a esses de sua autoria, indico ainda História da vida privada, que ele organizou com outros historiadores, que tem a Idade Média como tema em seu volume 2.


Para ver mais sobre Georges Duby e outros Historiadores em Perfilclique aqui!

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*originalmente postado em 9/abr./2020.

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