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Joana D'Arc, uma breve biografia | José A. Fernandes



 

Ela apareceu durante a Guerra dos Cem Anos e se destacou na luta dos franceses contra os ingleses. Sua história mistura mito e realidade, heroismo de sua parte e covardia por parte de seus opositores.

Nascida no início do século XV, em Domrémy, no leste da França, Joana D’Arc era uma camponesa de condições humildes. Uma menina qualquer. Uma religiosa desde criança, que não sabia ler ou escrever, mas que sabia os atos da fé católica. Desde cedo conviveu com a guerra que envolvia França e Inglaterra. 

Os dois países desde 1337 estavam envolvidos na Guerra dos Cem Anos. Os ingleses havia tomado o norte da França, com o apoio do Duque de Borgonha. Desejavam avançar ao sul, tomando conta de todo o reino. No sul estava Carlos VII, o herdeiro do trono francês. Que não pretendia, evidentemente, ceder ao rei inglês. A Guerra dos Cem Anos,  é a mesma guerra na qual se envolveria Joana, ganhando notoriedade. A mesma também que lhe renderia um processo pela igreja e pelo governo inglês, que, afinal, lhe condenaria à morte.

Uma aldeã que, segundo se conta, teria experiências sobrenaturais, ouvindo vozes celestes. Experiências que começaram quando ela ainda tinha 13 anos. E que a conectariam com o destino da França. 5 anos separaram a primeira visão, da ação propriamente dela em prol do reino da França. Período em que ela passou de uma criança interativa, para uma reclusa, solitária e reflexiva. 

As vozes que ouvia a levaram a Vaucouleurs, a fim de cumprir sua missão, que segundo ela era de salvar a França, ajudar Carlos VII, o Delfim, a recuperar o território francês e ser coroado rei. Chegar até Carlos VII não foi fácil. Depois da primeira negativa, foi reanimada pelas vozes, que teriam dado predições, que teriam se cumprido e convencido o capitão a lhe aceitar no exército. Ela usava de conhecida profecia, que dizia que "a França seria arruinada por uma mulher (a rainha-mãe) e restituída por outra".

Conta-se que ao ser posta na mesma sala que o rei, ela o teria reconhecido. Mesmo ele tendo a testado, colocando outro nobre no trono. A impressão foi forte, os franceses precisavam de moral, de alguém que os animasse. Nesse caso, uma mulher, uma virgem, falando em nome de Deus. 

Era fevereiro de 1429, quando ele montou a cavalo, trajada como homem, com armadura, espada e lança. Era acompanhada por seis homens, que juraram protegê-la. Mas ela logo mostraria seu valor nos campos de batalha. 

Em abril do mesmo ano, ela, vestida da armadura branca que ganhara de presente do rei, junto com o Duque de Alençon, marcharia para Orleans a frente de um exército de 2 a 3 mil homens. Orleans já estava assediada pelos ingleses desde 1427. Não que ela tenha sido ouvida em tudo, o tempo todo. Ao contrário, ela era com frequência enganada pelos chefes militares. Mas isso aos poucos foi mudando, conseguindo ela ganhar a atenção, sempre em nome das vozes que lhe falavam. 

Sua primeira ação em combate se deu no reduto de Saint-Loup. Depois de acordar aos gritos, no acampamento em que estava, saiu ao reduto, encontrando os soldados de retorno, sem moral pela derrota que acabavam de sofrer dos ingleses. Foi enérgica, animou-os a voltar e lutar. Os francês reanimados, não tiveram dificuldades então de conquistar o reduto e massacrar os ingleses.

Ela nunca tinha estado em um campo de batalha!



Daí em diante, ela proferiu que a vitória seria conseguida em 4 dias. Os mais realistas diziam que não aconteceria em menos de um mês. Foi uma vitória atrás da outra. Fortim por Fortim. Inclusive o mais difícil deles, Le Tourelles. Esse, muito mais fortificado, rodeado por fosso profundo. Viu os franceses lutarem corajosamente, sendo várias vezes repelidos. A própria Joana foi ferida por uma flechada, que atravessou seu ombro. O que não a deteve. Com insistência, os franceses tomaram o reduto e todos os ingleses foram mortos.

Depois dessa vitória, os soldados a reconheciam e o povo francês também. Eles a aclamavam, lhe rendiam homenagens. Os chefes militares reconheciam seus méritos. Era aclamada como a Virgem de Orleans, que ela havia então salvado. 


Depois dali, ela foi presença marcante também em Jargeau, Meung e Beaugency. Mesmo assim, ela não tinha comando, nem lhe permitiam juntar-se à vanguarda. De qualquer forma, ela foi presença marcante e os franceses venceram os ingleses. Muitos morreram, o comandante Talbot foi preso e o comandante Falstaff fugiu. 

Dali seguiram para Reims, onde Carlos VII seria coroado, em 17 de julho de 1429. Ao final, a França tinha um rei legítimo, que se colocava contra o rei estrangeiro e invasor. Mas, apesar da alegria da coroação, o que veria a seguir não seria bom pra Joana D'Arc.


Houve novas traições do Duque de Borgonha. Armistícios que deram tempo aos ingleses de se recuperarem. Carlos VII foi enganado. Mas percebendo o erro, marchou para conquistar Paris. Joana foi novamente ferida, teve a visão de sua morte vindoura, do seu futuro martírio. Os soldados do rei legítimo bateram em retirada na primeira tentativa, sem conquistar a antiga capital. O duque de Borgonha mais uma vez havia traído o rei Carlos VII, tendo prometido falsamente a capitulação de Paris. O que não ocorreu. O novo engano causou o descrédito de Carlos VII, depois de acreditar na falsa promessa e retirar o exército atacante. Os mais fiéis vassalos o abandonavam. O rei só reconheceria a traição do Duque de Borgonha em maio de 1430. 

Recomeçando então as ações bélicas, é nesse período que Joana D'arc seria traída e presa. No ataque à aldeia de Margny, na ponte que serviria de escape ao exército francês que ia em retirada, Joana a encontrou erguida. Se viu cercada pelo inimigo, que a levou presa. A princípio esteve ela com os borguinhões, franceses aliados dos ingleses. Mas logo foi enviada para Inglaterra, após ofereceram alta soma de dinheiro. 

Os mesmos ingleses a odiavam profundamente. Por sua influência sobre os soldados de Carlos VII. Por suas ações em guerra; por ser ela um símbolo das vitórias recentes dos franceses que não queriam se sujeitar. Procuraram desmoralizá-la; abriram um processo eclesiástico, no âmbito da Santa Inquisição. Procuraram provar que era bruxa.

A frente do processo estava o bispo de Beauvais. Assim como o conde de Warwick. O processo teve intenção política e já começara viciado, com sentença definida. Só precisavam, portanto, de uma justificativa. Em época em que bruxaria estava em voga e sua perseguição era coisa séria, as ações de Joana D'arc, suas visões, a maneira como falava, como se vestia, foram amplamente usados para condená-la.

Suas visões e predições foram suficientes para rotulá-la como "mulher diabólica", "discípula do demônio", que usava de magia e encantamentos que assim causava a ruína de cavaleiros cristãos ingleses. Como diria o duque de Bedfort, era "uma herege satânica e vergonhosa".

Ao todo foram 17 interrogatórios, sendo 6 deles públicos. Ao final foi acusada de 70 crimes, que o bispo Beauvais condensou em 12. E acrescentou falsamente que Joana teria confessado todos. Crimes que iam de bruxaria a negação da autoridade da igreja. Condenada, foi levada ao estrado, em praça pública, onde seria queimada. A menos que conjurasse. Sem saber o que fazia, aceitou. Vestiu trajes femininos e confessou os crimes que não havia cometido. Inclusive que as vozes que ouvia eram mensagens diabólicas. Ao perceber que havia sido enganada, voltou atrás. Voltou a vestir trajes masculinos. Se tornou então uma relapsa - alguém que voltou a cometer os crimes anteriores, segundo a linguagem da Inquisição. E daí em diante, seguiu seu martírio rumo à fogueira. 

Era 30 de maio de 1431.


Nos momentos seguintes, as predições de Joana, divinas ou não, se cumpririam. Filipe o Bom, Duque de Borgonha, romperia com a Inglaterra. Em 1436, Paris abriria as portas ao rei legítimo, Carlos VII. O poder do rei se fortaleceria, reformas governamentais seriam feitas, aumentaria a combatividade do exército francês. Em 1452, o último exército inglês seria vencido. Finalmente, em 1453, a Guerra dos Cem Anos acabaria, com a vitória do partido francês.

Muitos concordam que Joana foi vítima de um "tribunal eclesiástico" ou mesmo da Inquisição. Vítima de um processo fraudulento e de atos de vingança. Assim como também não teve apoio do rei pelo qual lutara. Rei que se afundou em indiferença com sua prisão e só depois lamentou sua condenação e morte. 

Poucos anos depois, no entanto, ela seria reabilitada. O processo de investigação seria ordenado pelo próprio Carlos VII, ainda em 1449 e iniciado oficialmente a pedido da mãe de Joana, em 1455. Em abril de 1909, o papa Pio X a beatificaria. Em maio de 1920 ela se tornaria santa, por canonização aprovada por Bento XV. 

Se tornaria santa pela mesma Igreja católica que a condenara à fogueira. Embora aí, se possa dizer que eram outros tempos e interesses. Assim como foram outros os personagens.


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O Processo de Joana D'Arc
Robert Bresson
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