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Copa do Mundo no Brasil: qual o legado?




por Tarcísio Safanelli Jr.*

Há pouco menos de um mês acabou o maior evento do futebol mundial, a Copa do Mundo FIFA, realizada aqui no Brasil. Acabou com milhões de brasileiros decepcionados com a seleção nacional que caiu numa humilhante semifinal contra a seleção da Alemanha. Como torcedores brasileiros ficamos muitos tristes, já com os gastos apresentados da Copa ficamos mais decepcionados ainda.

Os custos dos estádios tiveram uma variação de 42% para mais nos gastos em relação ao que era previsto no início dos projetos; foram gastos aproximadamente 8,48 bilhões para todos os estádios ficarem prontos – sendo que apenas 3 estádios são privados, dos 12 usados na Copa. Mas de onde saiu todo esse dinheiro? Saiu de nós brasileiros que pagamos os “baratíssimos” impostos e todo custo de vida alto (energia elétrica, alimentação, IPTU, combustível)  que “enfrentamos “para ‘conseguir viver’. Dos estádios, o governo financiou alguns na construção e em outros a reforma; na verdade o povo brasileiro que emprestou dinheiro para a rede privada, sim, porque somos nós que vamos pagar. Sem falar no dinheiro que foi desviado da obra.

Quando o Brasil foi eleito pais sede para receber um evento desse porte, nós estávamos eufóricos com a possibilidade de sediar o Mundial. Só que esquecemos que nosso país tem muitas outras prioridades, que estão à frente de ser um anfitrião de Copa. Quantas pessoas hoje morrem no Brasil, por falta de hospitais, de equipamentos bons e médicos preparados? Não adianta apenas construir hospitais, tem que saber investir e preparar os profissionais. Mesmo exemplo é o da educação. Escolas, claro que temos, mas em quantas delas faltam professores, material  e estrutura para uma boa aprendizagem dos alunos? Creio que devíamos ter cobrado  uma posição do governo no inicio das construções dos estádios, por que no final o “erro” já estaria cometido mesmo. 

Muitos falam em legado positivo da Copa, pois foram feitas obras nos meios de transportes, nas estruturas das cidades-sede, na rede hotelaria brasileira... Mas muitos não lembram das indústrias e do comércio que pararam por vários dias. Com a produção parada e sem vendas, sem faturamento, foi um grande desaquecimento econômico em alguns setores; sem falar de obras de infra-estrutura que nem estão prontas ainda.

Tomando o evento Copa do Mundo em si, temos como exemplo maior, em minha opinião, o que ocorreu em 2010, na África do Sul. Quanto dinheiro foi investido em estádios? Milhões e milhões! No Brasil o futebol é destaque, mas na África do Sul existem pouquíssimos time profissionais. Ali o futebol divide espaço com o Rugby, que aliás parece ter mais destaque. O que eles ganharam com estádios de milhões? No Brasil não é muito diferente em algumas regiões de nosso vasto território -  basta pegar a Arena Amazonas e mesmo a Arena Pantanal.

Quando pensamos no Brasil, podemos imaginar um país ainda carente de boas oportunidades de emprego, qualidade de vida, saúde, educação... Se no Brasil é ruim, quanto mais não deve ser a África do Sul, onde não há investimentos, o dinheiro praticamente foi desperdiçado em algo que não é mais importante do que as prioridades básicas que eles tem (e nós também). 

Mas, voltando ao nosso terreiro, maior legado mesmo deve ser o aprendizado que o brasileiro deve ter, podendo lutar por melhores condições de vida, por um país mais justo possível e menos desigual. Isso deverá ser mostrado nas urnas logo mais, nos votos, e não quebrando as cidades, patrimônios do país. Queremos mudanças, um país justo, honesto, melhor; pois bem, temos que começar primeiro por nós, e assim mudar a sociedade ao nosso redor. Agora, enquanto chamarmos um técnico de futebol de “professor” e um professor de “cara”, sem dar o devido valor, não haverá mudança em nossa sociedade.



Fontes dos dados: G1/Economia; Revista Placar.

* Aluno do 3º Ano do Ensino Médio da EEB Alfredo Zimmermann, de Guaramirim, SC.

** Imagem no topo: retirada do site SECOPA-PE.

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2 Comentários

  1. Outro ponto muito discutido foi a questão dos recursos, supostamente de outras fontes (hospitais, escolas) para os estádios. Isso ao menos em parte é falso, uma vez que todos os recursos que foram usados nos estádios juntos, não resolverriam todo o problema da educação e da saúde do país. Além disso, comparativamente o sistema de saúde público brasileiro oferece serviços importante em maior escala que muitos outros países. O que acontece é que quem tem maior poder econômico acaba usufruindo melhor do sistema do que os pobres, geralmente desinformados e sem poder de barganha morrem nas filas. Mas o sus é famoso por fornecer tratamento de ponta aos mais abastados, o que nem o sistema privado brasileiro muitas vezes oferece. Sem contar que os problemas de filas não começaram com a copa. É preciso rediscutir o sus, mas sem demogagia e com a única intenção de obter bônus em eleições.

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  2. Eu havia postado um comentário antes desse. Em que eu sustentava que a copa pode ter sido sim um evento que pode servir à democracia brasileira, se adequadamente explorado. Principalmente, falava que o problema do superfaturamento dos estágios não é um problema exclusivo da copa, mas algo comum em todas as licitações brasileiras. Por isso, seria preciso rediscutir a lei de licitação e seu controle. Obviamente, isso termina muitas vezes não sendo feito porque a única coisa que se faz é tentar obter bônus político desse tipo de evento. É preciso melhorar a instituições e com isso a corrupção tende a diminuir.

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