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A Inteligência Artificial e as angústias humanas

 


Esse texto é um dialogo sobre os sentimentos humanos e as inteligências artificias, usando como fundo o filme Ela, estrelado por Joaquin Phoenix.

Esse texto não é uma análise psicológica técnica, mas uma reflexão sobre o estado em que se encontra o ser humano atualmente. Somos seres com sentimentos, ou pelo menos animais que se expressam de formas diversas mas dramáticas. E com isso quero dizer que, diferente dos outros animais, nós verbalizamos nossos sentimentos, seja por escrito, seja oralmente, seja visualmente através da arte. Os demais animais, até onde sei, não fazem nenhuma dessas coisas.

Nesse contexto, aparecem nossas angústias. Dentre elas a solidão, o medo de ficar só, de não se sentir amado. Falei disso num vídeo curto do canal, um poema, sobre a necessidade que sentimos de sermos vistos, sermos lembrados.

Isso é premente, porque a questão aqui é que atualmente nossas emoções têm cada vez mais se relacionado com as transformações tecnológicas. Já criamos produtos para satisfazer necessidades sexuais, aliás, cada vez mais realistas e criativos. Mas, não tínhamos ainda chegado ao ponto de criarmos substitutos para os diálogos, para as interações emocionais e mesmo para o que chamamos de amor

Como diz meu amigo Eduardo Luiz, presença marcante no canal, a inteligência artificial vem se desenvolvendo pela "transferência do sofrimento humano à sua tecnologia". Isso porque, estaríamos colocado na "mão" de robôs a capacidade de interagir com os sentimentos humanos. Eles têm evoluido de forma rápida, se tornando capazes de receber as angústias dos usuários e responder à elas. Eles têm se tornado cada vez mais eficientes, podendo "oferecer significantes que possam estabelecer uma linguagem sobre aquilo que por conta própria o humano não consegue produzir".


Para entendermos melhor isso, tomemos o filme Ela (Her, em inglês, disponível no Prime Vídeos), que tem como estrela principal o grande ator Joaquin Phoenix (conhecido recentemente por seu papel em Coringa, mas que tem uma carreira muito mais extensa). Ele dá vida ao personagem Theodore, um escritor de cartas virtuais e cartões românticos. Um cara que, apesar de suas habilidades, vive só. No auge de sua angustiosa solidão, ele compra um novo programa, que promete fazer companhia e dialogar. Trata-se de uma inteligência capaz de interagir de forma realista e criar uma relação com o usuário.

Desacreditando de início, ele acaba se apaixonando pela voz deste programa informático, dando início a uma relação amorosa entre ambos. Voz que tem nome: Samantha (narrada pela bela Scarlett Johansson). Esta história de amor incomum explora a relação entre o homem contemporâneo e a tecnologia. 

E é aí que se encaixa o nosso texto.

O homem diante do robô

Anos atrás isso pareceria absurdo, para a maioria das pessoas pelo menos. Hoje em dia, parece cada vez mais "normal" imaginar esse tipo de coisa. Antes parecia longe da realidade. Seria no máximo coisa de filmes de ficção científica, do tipo do Exterminador do Futuro de Arnold Schwarzenegger. Até mesmo o filme Ela, que estamos usando como exemplo aqui, chama atenção pelo fato de ter sido lançado em 2013, quando nem se falava de Chat GPT e a tecnologia artificial ainda não estava nos trends topics.

Acontece que isso tudo é bem real. E perigoso até. 


Eduardo Luiz mais uma vez nos diz que 

"ao entregar tanto de seu inconsciente doloroso à máquina, ela se aproveita do vasto conteúdo psíquico para dominá-lo através do seu bem sofisticado algoritmo. Mas não será um significado de posse, domínio, daquele que dele se serve - e sim posse da máquina". 

Não é mais coisa de ficção imaginar as máquinas dominando o mundo. O perigo é bem real - ao ponto de chamar a atenção de gente que tem dedicado a vida toda à tecnologia, como Elon Musk e Bill Gates. Nesse contexto, muitas dúvidas têm surgido atualmente: seremos substituídos no trabalho? Seremos necessários no que fazemos? Como nos adaptaremos às novas realidades? Mas, algo é ainda mais fundamental aí: qual será a relação entre os humanos e os robôs? Eles dominarão o mundo? 

Em relação às emoções, coisas que nós monopolizavamos até agora, como será? O perigo da inteligência artificial é que com sua capacidade cada vez mais acurada de interação, "perdemos a autoria (autoridade) sobre as próprias experiências da vida; perdendo o sentido, a sensação, o significado sobre o mundo, perde-se também a própria existência, que lentamente é corroída pelo fluxo do caos que nunca devidamente é respondido pelo ser vivo que a ele está submetido". Isso mexe com tantas áreas do conhecimento envolvendo o psicológico que seriam necessários muitos outros textos pra falar a respeito. 

Mas, só pra ficarmos em algo fundamental para a psicanálise, podemos pensar que o "apocalipse gerável pelas IAs é equipar a pulsão de morte com uma falsa pulsão vida, onde é possível sentir uma coragem, um alento, uma força, uma alegria que, na verdade, não são de propriedade do próprio indivíduo que as sentiu, pois serão atributos da máquina voluntariamente alimentada pelo ser que em segredo de si mesmo renunciou o desejo sobre a própria vida".

Seremos inundados por interações sintéticas? Eis um gatilho para novas angústias. O que se liga ao início do texto, no sentido de mostrar que a máquina pode oferecer "soluções" para necessidades de interação. Mas, ao mesmo tempo, gerará novas fontes de angústia. Daí lembrarmos do final do filme Ela (atenção para o spoiler!), onde o aplicativo é desativado e Theodore se vê em desespero com a possibilidade de perder o amor virtual, que, no final, era presença constante na sua vida, ainda que não fisicamente.

Aproveite para ver o vídeo do Eduardo Luiz com o Robson Silva falando sobre a Filosofia!
Se estiver recebendo no e-mail e não conseguir ver o vídeo, clique aqui.

Inteligência Artificial X Humanos
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