A Inteligência Artificial e a educação

Muita gente tem comemorado o advento das tecnologias digitais, especialmente da Inteligência Artificial. Tem-se falado em gameficação, aulas invertidas, salas makers e afins. Mas, até onde isso tudo é positivo?

Já estamos vivendo novos tempos. A IA e as tecnologias de maneira geral já são urgência para os professores e alunos - no primeiro caso, tendo que se reinventar bastante, especialmente os da chamada "velha guarda". Mas é interessante pensar até que ponto isso é bom e quando isso ameaça muitas instituições, seja a física escolar, seja ela a própria profissão do professor, instituição milenar. Ou ainda: como isso atrapalha nas aulas e forçam o professor a repensar suas práticas e formas de ensinar?

Muita coisa legal tem surgido, não dá pra negar. A gamificação tem trazido benefícios inegáveis para a dinâmica das aulas, tornando-as mais atraentes para os alunos. Isso porque os jogos, eletrônicos especialmente, mas também os físicos, sempre foram um chamariz que prende a atenção e que pode ajudar e muito no raciocínio e na compreensão de conteúdos que no modo chamado "tradicional" seria mais difícil.

A onda da aula invertida também tem gerado resultados significativos, embora não seja de todo uma grande novidade. O ato de levar o aluno a construir conhecimento, de fazer pesquisa, de procurar sua própria leitura sobre conceitos e fatos, antes de o professor intervir e interagir, para tirar dúvidas e debater, é algo realmente importante, fundamental eu diria. Já foi o tempo em que nosso papel era apenas de "transmissores de conhecimentos".

Essas duas coisas (gameficação e aula invertida) estão recebendo um novo apoio com os avanços da Inteligência Artificial, que já era ideia desde o século XIX e agora tem se tornado uma realidade em ritmo assustador. O ChatGPT veio completar esse quadro, trazendo respostas e ajudando a acelerar processos, tais como formulação de questionários e provas, assim como também planos rápidos de aula. Só pra citar umas poucas possibilidades.

Para os alunos o ChatGPT pode ser útil até certo ponto. Sem falar na vida e no dia a dia de forma geral, tendo a IA se infiltrado cada vez mais, desde a Alexa e o Echo Dot, até a iluminação inteligente o chuveiro de casa. O que se imaginava para os Jetsons lá nos anos 1960 ou ainda por meio do filme O Exterminador do Futuro, tem se tornado realidade. Você não precisa mais de muito esforço para encontrar lugares, para saber onde ir jantar, para fazer os trabalhos domésticos e por aí vai. Até o transporte (especialmente o táxi) pode se tornar autônomo em breve.

Mas foquemos na educação. Sem dúvida que há fatores positivos em gameficar, inverter as aulas, usar Inteligência Artificial e somar as novas tecnologias. Mas, há também muitas dúvidas e mesmo perigos que passamos a ter que pensar nos últimos anos, seja em relação aos alunos e a aprendizagem, seja em relação a nós mesmos, os professores.

Começando pelo que é nosso, tem surgido (ou aumentado) a angústia e a sensação de que "precisamos nos reinventar, ou seremos substituídos" pelas tecnologias e pela IA. Não é difícil imaginar uma redução nas funções dos professores, especialmente aqueles que tem dificuldade ou resistem a se incorporar na nova onda. Tem-se falado que a Inteligência Artificial é já mais inteligente que nós e que em breve será capaz de dar aulas, como nós fazemos. Aliás, já existem aplicativos que dão aulas, por exemplo de línguas estrangeiras; e o ChatGPT já dá respostas às muitas perguntas dos alunos.

Isso precisa nos provocar a pensar algumas coisas, do tipo: qual será nosso papel nessa nova realidade? O que imaginamos para a educação? Seria ela apenas uma formadora de mão de obra? Sua função seria mais técnica? E as Ciências Humanas, como ficariam nessa "história"?

Isso se soma às novas realidades que têm se apresentado para os alunos. Eles têm acesso às respostas para as mais diferentes perguntas, de forma rápida, instantânea.

Esses dias dei uma prova online, onde os alunos tinham que usar o celular. Isso me forçou a ficar de olhos ainda mais abertos para possíveis colas; olhei os celulares e encontrei alguns com ChatGPT instalado. Isso me faz pensar em como vamos elaborar as provas; em como vamos dar atividades ou pedir trabalhos para eles fazerem em casa, se é muito fácil encontrar tudo pronto. Inclusive é possível pedir para o ChatGPT mascarar o texto, pedindo para ele acrescentar erros de ortografia e de concordância, para dar a entender que o próprio aluno fez o trabalho.

Tudo isso tem vindo como enchurrada, como uma onda que leva o que é (ou era) e traz o que deve ser. Embora o que deva ser nós nem saibamos ainda direito. De qualquer forma, o que é certeza é que a educação já não é mais a mesma e os nós professores já não podemos ser também.

Aproveite para ver o vídeo do Eduardo Luiz com o Robson Silva falando sobre a Filosofia!