Eric John Ernest Hobsbawm nasceu em 1917, às vésperas do fim da Primeira Guerra. Era filho de pai inglês e mãe austríaca, ambos judeus. Nasceu em Alexandria, no Egito, num tempo em que aquele país estava dominado pelos ingleses, tendo isso - somado à sua filiação paterna - garantido sua nacionalidade britânica.
A infância passou entre a Áustria e a Alemanha, em tempos difíceis para ambos os países. O primeiro sofrendo o impacto da separação do finado Império Austro-Húngaro e o segundo país, como já sabem, por sua condição de "grande perdedor" e "único culpado" da Grande Guerra. A coisa ficaria ainda mais complicada com a morte do pai em 1929, e sua mãe apenas dois anos depois. Ele e sua irmã foram então adotados pela tia materna, Gretl, e por seu tio paterno, Sydney. Foi com eles que Eric Hobsbawm se mudou para Londres em 1933 - num momento em que o nazismo passava a dominar a Alemanha.
É no novo país que ele começará sua jornada. Em 1936 ele entrou para o King's College, Cambridge, quando também ingressou no Partido Comunista, na forma do "Clube Socialista da universidade". Naquele universo passou a se destacar, tendo se doutorado em História pela Universidade de Cambridge com sua tese sobre a "sociedade fabiana".
Durante a Segunda Guerra, Hobsbawm serviu na Royal Engineers e na Army Educational Corps.
Mas a jornada não foi tranquila. Dada sua ligação com o Partido Comunista, em 1942 a MI5 (serviço de segurança britânico) abriu um arquivo para a vida pessoal de Hobsbawm e esse monitoramento afetaria o progresso de sua carreira por muitos anos. Como exemplo disso, em 1945 ele se candidatou para a BBC (rede de TV pública) para um emprego de tempo integral para fazer transmissões educacionais para ajudar os ex-combatentes a se ajustar à vida civil depois de um longo período nas forças armadas e foi considerado "o candidato mais adequado". Acontece que a candidatura de Hobsbawm foi vetada pelo MI5, que acreditava que ele fosse "inoportunamente" aproveitar para "disseminar a propaganda comunista e recrutar pessoas para o Partido". Outro exemplo de como Eric Hobsbawm foi prejudicado por sua posição política foi que, em 1947, ele passou a lecionar no Birkbeck College, em Londres, de forma "limitada", como reader, mas só foi promovido a professor 13 anos depois, em 1970. Nessa mesma instituição ele se tornaria professor emérito em 1982. Nesse meio tempo, ele foi fellow no King's College, Cambridge, entre 1949 e 1955. Na mesma Cambridge, no entanto, ele teve sua ação lectureship (conferencista) negada por inimigos políticos.
Formalmente, Hobsbawm se aposentou da Birkbeck em 1982, se tornando professor emérito em História - em 2002 se tornaria presidente da mesma Birkbeck. Ele seguiu ainda como professor visitante na The New School for Social Research em Manhattan, Nova Iorque, Estados Unidos, entre 1984 e 1997. Ele foi, até sua morte, professor emérito na New School for Social Research in the Political Science Department.
Partindo de sua base, o marxismo, e sempre tendo por perto a "história econômica (dos historiadores)", ele focou nos diversos elementos que levaram à formação do Capitalismo. Fez dos estudos das duas principais revoluções do século XVIII - a francesa e a industrial - uma obsessão. Estudou os efeitos dessas revoluções na consolidação do capitalismo liberal, observou as permanências e mudanças no século XIX, inclusive o uso das tradições por parte das elites, que para ele serviram para legitimar a "Nação" e os "nacionalismos".
Deu atenção também para Marx, Engels e a história do marxismo, desde o século XIX até o esfacelamento da URSS em 1991. Disso resultou, entre outras coisas, a grande História do Marxismo, composta por 12 volumes, que ele organizou. Nesse sentido, nessa obra e em outras atentou para os revolucionários, os trabalhadores, os movimentos sociais (primitivos e modernos), as revoluções.
Como já dissemos, ele buscava ir fundo nos temas que tratava, o que torna sua leitura "difícil" para alguns, especialmente para que está começando. Diríamos, entretanto, que, depois de ler algumas de suas obras, o que se tem com Hobsbawm é um "passeio de erudição". Como também já dissemos, ele se situou entre os principais historiadores do século XX, tendo sido lido e relido em diversos idiomas, tendo influenciado as mais diversas reflexões e pesquisas; tendo sido amplamente premiado pela sua vastíssima obra.
Eric Hobsbawm morreu em Londres, em 1 de outubro de 2012, aos 95 anos de idade.
Os livros desse autor:
Labour's Turning Point: Extracts from Contemporary Sources (1948)
Primitive Rebels: Studies in Archaic Forms of Social Movement in the 19th and 20th centuries (1959, 1963, 1971) / edição em espanhol Rebeldes Primitivos
The Jazz Scene (1959) / edição em português História Social do Jazz
Labouring Men: studies in the history of labour (1964) / edição em português Os Trabalhadores: Estudos Sobre a História do Operariado
Pre-Capitalist Economic Formations (1965) / edição em português As Origens da Revolução Industrial
Industry and Empire: From 1750 to the Present Day (1968) / edição em português Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo
Captain Swing (1969)
Revolutionaries: Contemporary Essays (1973) / edição em português Revolucionários: Ensaios Contemporâneos
Italian Road to Socialism: An Interview by Eric Hobsbawm with Giorgio Napolitano (1977)
Worlds of Labour: Further Studies in the History of Labour (1984) / edição em português Mundos do Trabalho: Novos Estudos Sobre a História Operária
Politics for a Rational Left: Political Writing, 1977–1988 (1989) / edição em português Estratégias para uma Esquerda Racional
Echoes of the Marseillaise: Two Centuries Look Back on the French Revolution (1990) / edição em português Ecos da Marselhesa: dois séculos reveem a Revolução Francesa
Nations and Nationalism Since 1780: Programme, Myth, Reality (1991) / edição em português Nações e Nacionalismo desde 1780
The Age of Extremes: The Short Twentieth Century, 1914–1991 (1994) / edição em português Era dos Extremos - o breve século XX
Art and Power: Europe Under the Dictators exhibition catalogue (1995)
1968 Magnum Throughout the World (1998)
Behind the Times: Decline and Fall of the Twentieth-Century Avant-Gardes (1998)
Uncommon People: Resistance, Rebellion and Jazz (1998) / edição em português Pessoas Extraordinárias: Resistência, Rebelião e Jazz
Karl Marx and Friedrich Engels, The Communist Manifesto: A Modern Edition (1998)
Interesting Times: A Twentieth-Century life (2002) / edição em português Tempos Interessantes (autobiografia)
Globalisation, Democracy and Terrorism (2007) / edição em português Globalização, Democracia e Terrorismo
Fractured Times: Culture and Society in the 20th Century (2013) / edição em português Tempos fraturados: cultura e sociedade no século XX
Co-edição ou organização
The Invention of Tradition (1983, em parceria com Terence Ranger) / edição em português A Invenção das Tradições
Livro destaque desse autor:
A Era dos Extremos
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* originalmente postado em 18/mar./2020
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6 Comentários
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirUma das mentes mais brilhantes do mundo acadêmico. Sua obra é essencial na construção de um mundo melhor.
ResponderExcluirDe fato. Era de um fôlego na produção, de uma criatividade como poucos historiadores que conhecemos.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEsse homem sem sombra de dúvidas veio para marcar gerações. Gerações necessitadas de conhecimento histórico e político cultural. Em 2007, na USF Itatiba,no curso de Letras,tive o primeiro contato com uma de suas obras, "A era dos extremos".A partir de então, muitas dúvidas foram sanadas.
ResponderExcluirMuitos diziam na faculdade que ele era "muito difícil". Até concordei um tempo, mas conforme fui lendo, percebi o quão rico era e como ele foi se tornando mais acessível. Eis uma chave da obra dele: conhecimento profundo e acessível.
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